Mulheres e ditadura:
Luta e resistência
No último período, no cenário
eleitoral, presenciamos uma enorme cisão na sociedade: de um lado estaria a
dita “família de bem” e do outro, mulheres, negros, LGBTQIA+ e a esquerda. Esse
debate ressuscitou a lembrança e o medo de um dos piores períodos da história
brasileira: a Ditadura Civil Militar. Para muitos que não conhecem a História,
a ditadura parece uma chamada à ordem por meio da força, mas o que muitos não
questionam é sobre a ordem de quem e para qual objetivo.
Os regimes autoritários surgem como
instrumentos de reorganização do Capital em diversas partes do mundo, já que no
mesmo período ascende, também, em escala mundial, uma possibilidade de
organização da classe trabalhadora e o enfrentamento ao modo de produção
vigente. Este momento da história é marcado por intensa repressão e violência
contra qualquer pessoa que ousasse questionar o modelo ditatorial. Destacaremos
aqui a violência sofrida pelas mulheres, que apresentou requintes de crueldade
pouco divulgados e estudados até hoje.
A efervescência da luta por direitos
das mulheres nos anos 60 encontra, na particularidade brasileira, a luta pela
queda do regime militar. As mulheres estavam organizadas em associações de
bairros, movimentos sociais, em guerrilhas armadas, em partidos políticos e
diversos movimentos sociais, participando ativamente da resistência e oposição
ao regime, ainda que tenham tido sua história de luta silenciada. A violência
contra as presas políticas do período foi intensificada pela misoginia do
regime e se expressava em práticas de tortura monstruosas.
As presas eram, em sua maioria,
estupradas e constantemente violentadas sexualmente. As mães eram torturadas na
frente dos filhos e as grávidas espancadas até o abortamento. Se tinham bebês,
eram proibidas de amamentar. A brutalidade da tortura incluiu, até mesmo, o uso
de animais vivos, dentre eles, jacarés e ratos como instrumentos de tortura. A
violência contra as mulheres foi marca desse período, mas isso não impediu a
organização política das mesmas, que além do regime militar, enfrentavam também
uma disputa dentro da própria esquerda para consolidação do feminismo no Brasil,
pois o movimento pelos direitos das mulheres foi considerado, por muito tempo,
como secundário em relação à luta de classes.
Ao longo dos anos e devido o
trabalho de muitas militantes, os movimentos feministas conquistaram o papel
central na luta pela vida das mulheres, pela construção de uma nova sociedade
livre do machismo e do patriarcado e ocuparam outros espaços de destaque, como
a imprensa e sindicatos, sendo fundamentais na luta pela reabertura política.
Hoje, no Brasil, vimos o reflexo de
uma crise estrutural do capital onde, a partir de 2016, cresceu uma alternativa
radicalizada da extrema direita que alinha o conservadorismo com o
ultraliberalismo econômico. Então, nós, mulheres trabalhadoras, principalmente,
feministas e lutadoras sociais fomos novamente alvos desse setor. Como
representação disso temos a morte de Marielle Franco, mulher, periférica,
negra, lésbica, para além de todas as opressões estruturais que a mesma sofria,
Marielle foi morta por aquilo que ela representava. Muito mais do que uma
representatividade na institucionalidade burguesa, ela representava um modo de
fazer política que se aproximava da classe trabalhadora, daqueles que são
diariamente e historicamente massacrados pelo Estado brasileiro.
Em 2018, com a candidatura de
Bolsonaro como a representação dessa direita, nós mulheres tomamos a frente na
luta contra a sua eleição. Principalmente nos atos “Ele Não”, especialmente no
dia 29 de setembro, onde milhões de pessoas se reuniram em mais de 100 cidades
brasileiras. Atos que foram chamados por diversas organizações feministas em
unidade contra o inimigo comum. Nós, do Coletivo Feminista Classista Ana
Montenegro estivemos presentes na organização deste e de outros atos contra
Bolsonaro.
Com o resultado da eleição, a luta
não pode parar. Para isso é imprescindível a organização das mulheres de nossa
classe, para conseguirmos barrar os retrocessos e lutar pelas liberdades
democráticas.
“Quando uma mulher avança, nenhum
homem retrocede!
Links importantes:
-
Aula
pública: Gênero e Ditadura Militar com Amelinha Teles
-
Documentário:
Marcas Femininas Contra a Ditadura Militar
-
Relatório
da Comissão Nacional da Verdade
(Capítulo 10 - Violência sexual,
violência de gênero e violência contra crianças e adolescentes)
-
Rosalina
Santa Cruz | “Golpe de hoje atinge pobres e negros”
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