sexta-feira, 16 de novembro de 2018



Mulheres e ditadura: Luta e resistência

No último período, no cenário eleitoral, presenciamos uma enorme cisão na sociedade: de um lado estaria a dita “família de bem” e do outro, mulheres, negros, LGBTQIA+ e a esquerda. Esse debate ressuscitou a lembrança e o medo de um dos piores períodos da história brasileira: a Ditadura Civil Militar. Para muitos que não conhecem a História, a ditadura parece uma chamada à ordem por meio da força, mas o que muitos não questionam é sobre a ordem de quem e para qual objetivo.
Os regimes autoritários surgem como instrumentos de reorganização do Capital em diversas partes do mundo, já que no mesmo período ascende, também, em escala mundial, uma possibilidade de organização da classe trabalhadora e o enfrentamento ao modo de produção vigente. Este momento da história é marcado por intensa repressão e violência contra qualquer pessoa que ousasse questionar o modelo ditatorial. Destacaremos aqui a violência sofrida pelas mulheres, que apresentou requintes de crueldade pouco divulgados e estudados até hoje.
A efervescência da luta por direitos das mulheres nos anos 60 encontra, na particularidade brasileira, a luta pela queda do regime militar. As mulheres estavam organizadas em associações de bairros, movimentos sociais, em guerrilhas armadas, em partidos políticos e diversos movimentos sociais, participando ativamente da resistência e oposição ao regime, ainda que tenham tido sua história de luta silenciada. A violência contra as presas políticas do período foi intensificada pela misoginia do regime e se expressava em práticas de tortura monstruosas.
As presas eram, em sua maioria, estupradas e constantemente violentadas sexualmente. As mães eram torturadas na frente dos filhos e as grávidas espancadas até o abortamento. Se tinham bebês, eram proibidas de amamentar. A brutalidade da tortura incluiu, até mesmo, o uso de animais vivos, dentre eles, jacarés e ratos como instrumentos de tortura. A violência contra as mulheres foi marca desse período, mas isso não impediu a organização política das mesmas, que além do regime militar, enfrentavam também uma disputa dentro da própria esquerda para consolidação do feminismo no Brasil, pois o movimento pelos direitos das mulheres foi considerado, por muito tempo, como secundário em relação à luta de classes.
Ao longo dos anos e devido o trabalho de muitas militantes, os movimentos feministas conquistaram o papel central na luta pela vida das mulheres, pela construção de uma nova sociedade livre do machismo e do patriarcado e ocuparam outros espaços de destaque, como a imprensa e sindicatos, sendo fundamentais na luta pela reabertura política.
Hoje, no Brasil, vimos o reflexo de uma crise estrutural do capital onde, a partir de 2016, cresceu uma alternativa radicalizada da extrema direita que alinha o conservadorismo com o ultraliberalismo econômico. Então, nós, mulheres trabalhadoras, principalmente, feministas e lutadoras sociais fomos novamente alvos desse setor. Como representação disso temos a morte de Marielle Franco, mulher, periférica, negra, lésbica, para além de todas as opressões estruturais que a mesma sofria, Marielle foi morta por aquilo que ela representava. Muito mais do que uma representatividade na institucionalidade burguesa, ela representava um modo de fazer política que se aproximava da classe trabalhadora, daqueles que são diariamente e historicamente massacrados pelo Estado brasileiro.
Em 2018, com a candidatura de Bolsonaro como a representação dessa direita, nós mulheres tomamos a frente na luta contra a sua eleição. Principalmente nos atos “Ele Não”, especialmente no dia 29 de setembro, onde milhões de pessoas se reuniram em mais de 100 cidades brasileiras. Atos que foram chamados por diversas organizações feministas em unidade contra o inimigo comum. Nós, do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro estivemos presentes na organização deste e de outros atos contra Bolsonaro.
Com o resultado da eleição, a luta não pode parar. Para isso é imprescindível a organização das mulheres de nossa classe, para conseguirmos barrar os retrocessos e lutar pelas liberdades democráticas.

“Quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede!

Links importantes:

-         Aula pública: Gênero e Ditadura Militar com Amelinha Teles

-         Documentário: Marcas Femininas Contra a Ditadura Militar

-         Relatório da Comissão Nacional da Verdade
(Capítulo 10 - Violência sexual, violência de gênero e violência contra crianças e adolescentes)

-         Rosalina Santa Cruz | “Golpe de hoje atinge pobres e negros”


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