quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher



            No último dia 04 de dezembro de 2016, aconteceu na sede do PCB, em São Paulo, uma roda de conversa sobre os 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, como parte integrante das várias atividades desenvolvidas nesse período.
            A Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres é uma mobilização anual, praticada simultaneamente por movimentos sociais, agentes públicos e organizações de esquerda preocupadas com a garantia dos direitos das mulheres. Em todo o mundo, essa campanha se inicia em 25 de novembro, Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher e vai até 10 de dezembro, o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Desde sua primeira edição, em 1991, já conquistou a adesão de cerca de 160 países e, no Brasil, essa campanha acontece desde 2003.
            O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro e a Secretaria Gênero do PCB de São Paulo organizaram a atividade pensando na formação dos e das militantes do partido e do coletivo, além de conversar com simpatizantes e outros Coletivos Feministas sobre o tema. As palestrantes se dispuseram em falar sobre a Divisão Sexual do Trabalho, o conceito de Feminismo Classista e os Vários Tipos de Violência Praticados contra as Mulheres. Maria Fernanda, Samara e Michelle também debateram a articulação entre a esquerda e a militância feminista.

O Feminismo Classista
            “O conceito de classe não se define somente pela posição diante da propriedade ou não dos meios de produção. Se define também pela posição de cada indivíduo no interior de certas relações sociais de produção e ainda pela consciência que associa ou distancia de uma posição de classe e pela ação dessa classe nas lutas concretas”, foi assim que se iniciou a conversa sobre a compreensão de Feminismo Classista durante a atividade.
            Não basta pertencermos a uma classe no sentido de origem e mesmo situação, temos que levar em consideração a ação e a consciência que possibilitam a identidade com uma determinada classe. E para compreender classe é necessário apreender a dinâmica da luta de classes e além disso, também temos que nos preocupar com a dimensão da escolha racional de classe.
            Como afirmou Mauro Iasi (2006), “Marx vê as classes como sujeitos das alterações históricas, como mediações históricas das contradições estruturais que amadurecem no interior de cada sociedade”. E entender todo esse processo exige de nós, militantes comunistas, compreender não apenas a dinâmica econômica restrita da exploração capitalista, mas compreender as particularidades e diferenças dos sujeitos que a compõem e como o capital se apropria delas para gerar mais lucro.
            A Classe trabalhadora é heterogênea, isto é, são pessoas reais, diferentes entre si e que fazem escolhas pessoais. Mirla Cisne (2014) aponta que não podemos considerar a classe como algo abstrato e sem história, ao contrário. Considerando que são pessoas reais que corporificam a classe, não estaremos negando a existência de componentes como sexo e etnia nas relações internas e externas à classe trabalhadora. Afinal, assim como a classe, as pessoas não são homogêneas, ainda mais em uma sociedade desigual como a nossa.
            Sendo assim, todos nós, militantes comunistas temos que conhecer essa heterogeneidade, compreender que os trabalhadores e trabalhadoras tem características diferentes e são considerados de maneira diferente no mundo competitivo do capitalismo. Tais características fazem com que, como Alexandra Kollontai disse, as mulheres tenham sobre seus ombros, o peso de ser trabalhadora, dona de casa, mãe e esposa. Enquanto os homens também são caracterizados, ainda hoje, como chefes de família que devem trazer o sustento de seus membros e sofrem quando isso não ocorre.
            Os papeis sociais que devem ser realizados pelos homens e mulheres trabalhadores também impõe postos de trabalho mais precarizados e mal remunerados, competição entre si para a ocupação desses postos. Também impõe a persistência da divisão sexual do trabalho, gerando grandes desigualdades de salário, jornadas extensas e intensivas e a permanência do não reconhecimento do trabalho doméstico e reprodutivo que se mantém como responsabilidade da mulher.
            Vemos então que o sistema capitalista não é só uma divisão em classes antagônicas. Também constitui uma divisão intraclasse e lança mão de tradições (culturalmente falando) para justificar a marginalização efetiva ou potencial de certos setores da população. Dito assim, parece algo completamente distante do que os militantes comunistas estão debatendo, mas não é. O sistema capitalista usa de preconceitos de sexo, etnia, de orientação sexual, de localidade geográfica para marginalizar mulheres, negros, LGBTS, nordestinos. E com isso, também precariza a força de trabalho desses grupos, fazendo com que exista uma hierarquização a ser seguida pelos trabalhadores e trabalhadoras.
“Há ainda outra dimensão importante a se considerar nessa “ordem” hierárquica, que é o sistema heterossexual obrigatório de organização social. Os homens brancos e heterossexuais possuem muito mais privilégio do que o outro lado extremo da hierarquia social: a mulher negra, lésbica e pobre. Assim a dimensão da orientação sexual, nessa sociedade patriarcal, engendra opressões particulares”. (CISNE, 2014, p.26).
            Com todo esse aprofundamento, o Feminismo Classista contribui para a compreensão da desomogeneização da classe trabalhadora e também se coloca nos desdobramentos políticos que podem surgir em torno das práticas coletivas reivindicatórias, vindas dessa compreensão. Souza-Lobo (2011) afirma confirma esse movimento da seguinte forma:
“Essa percepção da heterogeneidade da classe nos possibilita engendrar táticas que podem se traduzir “em práticas reivindicatórias diferenciadas e autônomas, desfazendo a centralização e a hierarquização que tornam invisíveis as formas de resistência de uma parte da classe operária” (Souza-Lobo, 2011, p.79). 
            Apesar de reconhecermos a multiplicidade dos sujeitos inseridos em uma mesma classe, não queremos isolá-los em suas identidades. É necessário perceber o sujeito classe trabalhadora, em sua totalidade, o que exige desvelar suas particularidades e singularidades. A classe como determinação central não deve secundarizar as demais características estruturais dos sujeitos que ele compõe. Por outro lado, tais elementos não devem subtrair a classe. Isso significa que as relações entre classe, etnia e relações sociais de sexo devem ser vistas com uma unidade determinante de um sujeito universal: a classe trabalhadora.


O Coletivo Feminismo Classista Ana Montenegro


            O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro existe desde 2005. E atualmente atua em vários estados brasileiros. No ano de 2015, realizou seu primeiro encontro nacional (https://pcb.org.br/portal2/9953) e apresentou suas resoluções enquanto um Coletivo partidário que luta pelo direito das mulheres, mas não deixa de lado toda a classe trabalhadora.
            Também é importante salientar que o Coletivo é misto e nossa luta enquanto militantes feministas classistas e comunistas nos orienta a debater conjuntamente todos os problemas da classe trabalhadora. Dessa forma, para nós é muito importante que todos os camaradas comunistas também se disponham, debatam e lutem pelos direitos das mulheres trabalhadoras, que estão ombro a ombro construindo o poder popular.

Referências bibliográficas:
IASI, Mauro. As metamorfoses da Consciência de Classe: O PT entre a negação e o consentimento. São Paulo: Expressão Popular, 2006.
CISNE, Mirla. Feminismo e Consciência de Classe. São Paulo: Cortez, 2014.

SOUZA-LOBO, Elisabeth. A classe operária tem dois sexos: trabalho, dominação e resistência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Secretaria Municipal de Cultura/Brasiliense, 2011

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Seminário de Mulheres em Luta (23/11/2013)


O Seminário de Mulheres em Luta, ocorrido em 23 de novembro de 2013, foi o primeiro evento organizado pelo núcleo do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro de São José do Rio Preto - SP. Foram convidados, a participar, membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST e do Movimento Mulheres em Luta - MML.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

NOTA DE REPÚDIO AO ASSASSINATO DOS CINCO JOVENS NA ZONA LESTE, SÃO PAULO.


Nesse momento de retrocessos, cortes e ameaças aos nossos direitos, não podemos deixar de nos posicionar acerca da violência do Estado contra os jovens trabalhadores e trabalhadoras.
No último dia 21 de outubro, 5 jovens negros, pobres e moradores da periferia, desapareceram após saírem juntos para uma festa. Tal acontecimento não viralizou nas redes sociais, não apareceu nos noticiários dos principais meios de comunicação, muito menos gerou comoção social. Lembramos que a juventude periférica sofre com a violência de Estado todos os dias e a “opinião pública” já está acostumada a criminalizá-la, como vimos nas ocupações das escolas públicas, e nas manifestações dos estudantes.
Passados quinze dias do seu desaparecimento, no último dia 06 de novembro, foram encontrados cinco corpos em um matagal na cidade de Mogi das Cruzes, São Paulo, já em avançado estado de decomposição. Rapidamente a polícia local constatou, através de análises das roupas, tatuagens e outros pertences que eram César Augusto Gomes Silva, 19 anos, Jonathan Moreira Ferreira e Caique Henrique Machado Silva, ambos de 18, Robson Fernando Donato de Paula, 16, e Jonas Ferreira Januário, 30.
Sabemos que estes rapazes já tinham um histórico policial e sofriam ameaças de perseguição injustificada. Por outro lado, sabemos também que o Estado e a “opinião pública”, tão valorizada atualmente, além de criminalizar a pobreza, criam estigmas  e  rótulos em jovens que já foram presos. Carregando tais  características, os  jovens assassinados já foram julgados, tanto por seus algozes quanto pelos meios de comunicação de massa.
Afirmamos ser imprescindível que aconteçam investigações abertas e indistintas sobre o caso e, se comprovado o envolvimento da Polícia Militar, que a instituição pague por tal crime, e não se culpabilize somente a conduta errada de alguns policiais.
Não podemos nos calar diante do genocídio e do encarceramento em massa dos(as) jovens periféricos(as). Estes jovens têm classe e cor, tornando-se o maior alvo do sistema e das chacinas nunca investigadas.
É válido pontuar que não é de hoje que a Polícia Militar age como grupo de extermínio. Segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as polícias brasileiras estão entre as que mais matam no mundo. Em 2015, a cada dia, ao menos 9 pessoas foram mortas por policiais no Brasil, gerando ao final do ano um total de 3.345 pessoas assassinadas.
A violência do Estado não para, sendo desvelada através das chacinas, emboscadas e torturas escancaradas. Esta realidade faz com que o Brasil tenha a  4ª maior população carcerária do mundo, com mais de 60% dos presos sendo jovens entre 18 e 29 anos, e negros.
Ressaltamos que o racismo que ocasiona a morte, não faz vítimas apenas do gênero masculino. De acordo com o Mapa da Violência, divulgado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), de 2003 a 2013 a morte de mulheres brancas por violência diminuiu 10%, na medida que a morte de mulheres negras aumentou 54% em todo o País.

Nós, do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, repudiamos toda e qualquer forma de violência do Estado para com os jovens, homens e mulheres, periféricos e trabalhadores. E desejamos profunda solidariedade às famílias de todos os jovens assassinados pelo Estado.

Só a luta muda a vida!


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

PRIMEIRO-DAMISMO E SORORIDADE

MARCELA TEMER E SEU PAPEL NO AVANÇO DA POLÍTICA NEOLIBERAL
Desde que assumiu, o novo governo, alinhado com setores mais conservadores e o projeto neoliberal para o Brasil, com Michel Temer como sua principal liderança, vem de forma truculenta atacando direitos da classe trabalhadora e provocando grandes retrocessos na Educação, na Política de Assistência e na Saúde Pública.
Quase que diariamente, um Projeto de Lei é aprovado definitivamente ou avança pelas instâncias necessárias para isso. Essa semana, tivemos PL 12.351, que muda as regras de exploração da camada do pré-sal, e PEC 241 que limita os gastos públicos, aprovadas e alterações na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) foram feitas retirando a obrigatoriedade de diversas disciplinas, principalmente no Ensino Médio.
Alterações na previdência são engatilhadas e programas sociais vêm sofrendo cortes, como o Bolsa Família. Recentemente, o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro (CFCAM) publicou uma Nota sobre como estes ataques fazem sangrar, ainda mais, as mulheres da classe trabalhadora. Veja no link https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1848931715340148&id=1525622171004439&substory_index=.
Primeiro-damismo: caridade e responsabilidade do Estado
Governo e grande mídia investem na figura de Marcela Temer e escancaram a visão burguesa do papel da mulher na sociedade: servidão e docilidade para atender ao trabalho reprodutivo gratuitamente. Ao “amadrinhar” o programa federal “Criança Feliz”, Marcela Temer, que não é nenhuma estudiosa ou profissional do ramo, discursa em favor da romantização da caridade em detrimento a responsabilidade estatal de combater as desigualdades sociais. Afirma seu  trabalho voluntário, na contramão da profissionalização do atendimento às demandas sociais decorrentes das desigualdades econômicas, de gênero, racial e do cuidado com crianças e jovens. Ainda, faz afirmações infames sobre “instinto feminino” e “instinto materno”, expressões da ideologia burguesa para naturalizar a exploração do trabalho feminino e o abandono do Estado burguês em relação às demandas sociais. Assistimos a volta das “damas caridosas” da alta sociedade e o primeiro-damismo.
Primeiro-damismo é o nome dado ao papel que as esposas dos presidentes da república são colocadas no Brasil, desde os anos 1940. A primeira-dama Darcy Vargas, esposa de Getúlio, foi a primeira a comandar a política de assistência e ajudou na criação da Legião Brasileira de Assistência, obedecendo um modelo centralizado de ações. A Legião Brasileira de Assistência - LBA era focada na figura das primeiras damas e assume todas as ações de assistência social até os anos de 1980. Todas as primeiras damas brasileiras até a década de 1980 foram responsáveis pela caridade do Estado junto aos pobres, tendo como principais características a benesse, a caridade e o clientelismo.
Seu retorno, na demonstração de mulher bela, recatada e do lar de Marcela Temer, além de ser uma construção ideológica do papel da mulher na sociedade, como afirmamos antes, também representa um retrocesso de 40 anos na construção de uma política nacional séria de assistência social, que foi instituída a partir da Constituição de 1988.
Vale lembrar que a primeira-dama não é considerada integrante da administração federal e nem recebe salário. E também não há nada na legislação brasileira que demonstre um papel específico para a esposa do presidente, sendo fundamentalmente protocolar e ligado aos rituais diplomáticos, além de ser amarrado ao modelo de casamento homem-mulher com homens na posição de ocupante de função pública, e não outros arranjos. E nesse caso, além de reforçar o papel de submissão marital, Marcela Temer, não estará à frente do programa como gestora, mas como promotora e visibilizadora.
O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro repudia, novamente, os ataques do governo golpista às trabalhadoras e trabalhadores. Não a retirada de programas sociais e não ao primeiro-damismo. Problemas sociais não se resolvem com caridade. Para nós, ainda que não passem de reformas, problemas sociais devem ser tratados como responsabilidade do Estado e com profissionais capacitados para o atendimento das demandas da população.

Em tempo: sobre sororidade
O Feminismo Classista, vertente feminista que dá nossa linha, repudia o conceito de sororidade, ou seja, de que todas as mulheres devem se unir e se apoiar. Não entendemos a luta contra a opressão como “sexo contra sexo”, mas sim como “classe contra classe”. O exemplo de Marcela Temer é didático para mostrar que ela está do lado da classe inimiga e se beneficia com nossa opressão, afinal, quantas empregadas são exploradas para que ela e algumas outras possam ser consideradas  “belas, recatadas e do lar”.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016


COLETIVO FEMINISTA CLASSISTA ANA MONTENEGRO BRASIL

FORA TEMER: RESISTIR AOS ATAQUES DO CAPITAL, CONSTRUIR A GREVE GERAL E O PODER POPULAR 

    A crise política brasileira está diretamente ligada a crise econômica mundial e a disputa entre setores da burguesia que estão preocupados em como melhor administrar seus efeitos. A burguesia no Brasil, como em todos os locais do planeta, vem tentando manter ao máximo suas taxas de lucros e o Partido dos Trabalhadores (PT), partido da presidente Dilma, já não vinha conseguindo cumprir nem essa tarefa, bem como não conseguia mais manter o apassivamento da classe trabalhadora. Isso impossibilitou a manutenção do pacto de classes que foi estabelecido entre o PT e os partidos de direita desde os governos Lula.

    Com o aguçamento da crise econômica no Brasil, o PT aprofundou as medidas de retirada de diretos trabalhistas, a privatização e precarização dos serviços públicos e as medidas de repressão social a qualquer forma de manifestação contra a ordem. Ao mesmo tempo, promoveu em solo nacional dois grandes eventos internacionais do esporte - a Copa do Mundo e as Olimpíadas - que só serviram para aumentar os ganhos dos monopólios internacional e nacional, à custa da remoção de milhares de famílias de seus locais de moradia e da destinação de recursos estatais para a construção de imensas obras para sediar esses eventos. Tudo isso fez aumentar o número de greves e manifestações dos movimentos sociais, principalmente os movimentos de luta por moradia, fato que, aliado à estagnação econômica, provou à burguesia a necessidade de retomar para si mesmo a direção do governo. 

    A burguesia brasileira, aliada ao capital internacional derrubou o governo Dilma não porque este fosse de esquerda nem mesmo reformista, mas pela demora, por conta de suas contradições, em radicalizar e acelerar ainda mais a chamada política de austeridade exigida pelo capital. 

    A crise também demonstrou o fracasso da política de conciliação de classe que o Partido dos Trabalhadores desenvolveu ao longo dos seus 13 anos de governo. Por mais que esse governo tenha realizado essencialmente a política do capital; por mais que tenha posto no governo os representes dos banqueiros, dos industriais e do agronegócio; por mais que tenha incorporado à sua prática o modus operandi da velha política; por mais que tenha aberto mão da regulação da mídia e das reformas populares; por mais que tenha cooptado, apassivado e desarmado os trabalhadores para a luta política, a classe dominante descartou o PT quando este passou a não servir mais aos seus interesses, provando mais uma vez que as ilusões da conciliação de classe só levam à derrota.

NOVO GOVERNO E MAIS ATAQUES À VIDA DAS TRABALHADORAS E TRABALHADORES. 

    O governo Temer, apesar de frágil e desmoralizado, inicia o governo acelerando ainda mais os ataques à classe trabalhadora, respaldado por uma maioria parlamentar conservadora e pela mídia burguesa hegemônica. Já são perceptíveis as intenções do novo governo, apressado em atender os interesses do capital. Dentre as medidas tomadas que denotam esse fato estão a aprovação de lei que ataca mais severamente os servidores públicos, e da lei que autoriza também as chamadas pedaladas fiscais (motivo pelo qual a presidente Dilma sofreu o Impeachment). Existem ainda, tramitando no Congresso Nacional, projetos de legislações que possibilitarão ainda mais privatizações no setor da saúde pública e uma nova reforma da previdência, que dificultará ainda mais a possibilidade de se aposentar. Mais preocupante ainda é a proposta de um plano para aprofundamento da dívida pública brasileira, mesma manobra que aprofundou a crise na Grécia em 2012-2013 e as políticas de austeridade. 

    Está em curso, desde o governo anterior, a regulamentação e ampliação das terceirizações, forma de contratação extremamente precarizada e que suprime uma série de direitos trabalhistas. Tal projeto tem a proposição da ampliação dessa forma de trabalho para todas as formas de prestação de serviços. Isso atingirá diretamente a vida das mulheres e em especial das mulheres negras, que são a maioria nos postos de trabalhos mais precarizados. As mulheres também são as mais atingidas com a precarização e privatização da saúde em curso, já que essas são sempre as principais responsáveis pelo cuidado da família e dos filhos, bem como são maioria nos trabalhos da saúde.

A SAÍDA É PELA ESQUERDA: CONSTRUIR A GREVE GERAL E O PODER POPULAR! 

    Avaliamos que nesse momento seja essencial organizar a classe trabalhadora para o enfretamento direto ao capital, não através de novas eleições, mas sim organizando a nossa classe nos seus diferentes locais de trabalho e moradia, mobilizando para uma Greve Geral e para um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora, a ser realizado em 2017. Sabemos que eleições realizadas nessa conjuntura, ou seja, numa correlação de forças favorável à burguesia, só iriam legitimar um novo governo do capital e gerar mais ilusões nas (os) trabalhadoras(es) sobre o caráter desse estado.

    O nosso “Fora Temer” deve intensificar a luta contra o Estado burguês, exigindo respostas mais avançadas de todas as organizações feministas de esquerda revolucionária. Propomos a formação de Blocos de Lutas capazes de aglutinar a unidade de ação de nossas mulheres. Temos que lutar contra o ajuste fiscal e o pagamento dos juros e amortizações da dívida interna, contra os ataques do capital aos direitos das trabalhadoras e pensionistas, por terra, trabalho e moradia e em defesa do patrimônio público e estatal.

    Para o COLETIVO FEMINISTA CLASSISTA ANA MONTENEGRO um passo importante nesse sentido, seria, por exemplo, estimular, na América Latina e Caribe, a realização de Encontros Nacionais/Regionais, das trabalhadoras do Movimento Feminista e outros Movimentos populares, apontando para um programa mínimo capaz de mobilizar os trabalhadores, particularmente as mulheres e a juventude, nos seus locais de trabalho, moradia e estudo e conduzir um processo que aponte as saídas para a crise no interesse dos trabalhadores, rumo à construção de um Poder Popular e ao Socialismo. 

Ousar Lutar, ousar vencer!

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

A HISTÓRIA DO FEMINISMO: DE ONDE VIEMOS E PARA ONDE VAMOS?



Somos mulheres!
Fomos bebês de berço rosa, criamos nossas bonecas, não brincamos de carrinho. Depois “aprendemos sentar”, limpamos, cozinhamos, lavamos e passamos. Acatamos orientações sobre o tamanho da nossa roupa, ouvimos elogios com as palavras mais grotescas, ganhamos menos pelo mesmo trabalho, somos silenciadas, estupradas e culpabilizadas.
Somos mulheres e lutamos para que isso não nos taxe, no entanto, por essa mesma luta somos taxadas de histéricas, cheias de “mimimi”, feias, assanhadas, aborteiras, mal comidas. Possuímos a arte de questionar, questionar a falta de escolha, escolher não ter filho, escolher a roupa, quem tocará no nosso corpo, escolher se sentir bem com nosso peso, nossa raça e nossas origens.
Somos mulheres e somos feministas.
Mas o que isso significa? Qual o contexto histórico, social e político de surgimento desse movimento e como se estrutura atualmente?
O movimento feminista é academicamente divido em três grandes ondas, este termo é utilizado em analogia às ondas do mar que estão em constante movimento, em certo momento atingem seu ápice e logo voltam à calmaria, no caso do feminismo, isso acontece quando as mulheres logram obter parte dos direitos reivindicados.
Entre os séculos XIX e XX, mulheres lutaram pelo direito ao voto. Conhecidas como sufragistas, as fileiras dessa primeira onda foram engrossadas basilarmente por mulheres burguesas, que além de reivindicarem o direito ao voto, também lutavam pela inserção no mercado de trabalho. Todavia, não levando muito em conta as pautas das mulheres trabalhadoras que já estavam no mercado de trabalho há muito tempo!
Durante as décadas de 60 e 70, emergiu a segunda onda feminista. As bandeiras sobre liberdade sexual estavam em alta e por isso surgem os primeiros questionamentos sobre as relações existentes entre homens e mulheres, culminando nos questionamentos sobre a hierarquia de poder entre os gêneros. No Brasil, pelo contexto histórico da Ditadura Civil Militar, envolvidas com as lutas políticas de combate à ditadura, as mulheres puderam perceber o quanto os papéis opressivos destinados às mulheres, pouco se alteravam mesmo com os companheiros ditos revolucionários. Nesse período muitas delas foram exiladas, o que permitiu o contato com o feminismo europeu, quando retornam do exílio, essas mulheres articulam a luta pelo término da ditadura com a luta feminista, percebendo que o fim do regime civil militar pressupunha a construção de uma nova sociedade, onde o machismo também deveria ser combatido.
A terceira onda, com maior articulação no meio acadêmico, faz surgir as primeiras referências ao termo “gênero”, hoje tão discutido e norteador do discurso e das práticas feministas. Também é nela que se acentuam as políticas públicas relacionadas a mulher. A expressão feminina se torna maior e passa a adentrar espaços diversos, onde antes a voz da mulher não era escutada ou até mesmo permitida.
Ainda que o movimento feminista tenha passado por tantas fases e tenha levantado tantas bandeiras, não podemos dizer que hoje ele tornou-se estático, pelo contrário, existem feministas vinculadas à vertente classista, que vem repensando espaços femininos muitas vezes ignorados pelas próprias mulheres. Não existe feminismo real sem a mulher negra, a mulher lésbica, a mulher trans, a mulher deficiente. Não existe feminismo real se todas as necessidades femininas não forem escutadas e pautadas em bandeiras de reivindicações e lutas. A luta feminista é essencialmente revolucionária. Mais que buscar um espaço de igualdade entre mulheres, ela busca a plena igualdade entre todos os indivíduos. Acreditamos que quando formos respeitados e aceitos em nossas diferenças, alcançaremos a plena emancipação humana e a exploração e opressão findarão. Essa é a sociedade que buscamos.
Mulheres de todo o mundo, uní-vos.

Coletivo Feminista Classista de São José do Rio Preto.

terça-feira, 31 de maio de 2016

NOTA DE REPUDIO AO ESTUPRO SOFRIDO POR JOVEM NO RIO DE JANEIRO E À TODA FORMA DE VIOLÊNCIA À MULHER



NOTA DE REPUDIO AO ESTUPRO SOFRIDO POR JOVEM NO RIO DE JANEIRO E À TODA FORMA DE VIOLÊNCIA À MULHER



Dia 25 de maio uma adolescente de 16 anos foi estuprada por mais de 30 homens e meninos, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Não bastasse ter seu corpo violentado, alguns dos estupradores publicaram vídeos e fotos do crime na internet. Todos os dias, em todos lugares do mundo e em vários períodos históricos da humanidade, mulheres foram estupradas e violentadas sistematicamente. O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro vem a público por meio dessa nota repudiar esse ato, assim todos os golpes que cotidianamente são desferidos contra nós, mulheres trabalhadoras. O sistema capitalista, ao longo de seu processo de acirramento das relações sociais de classe, desenvolveu e aperfeiçoou técnicas de controle do corpo da classe trabalhadora. Sendo a mulher o sujeito mais oprimido e explorado dessa relação, coube ao corpo dela a total submissão no regime do capital. Ainda em acordo com essa perspectiva dada pelo capital com relação ao corpo feminino, é possível destacar também a ideia de sexualização que se imprimiu sobre ele. A exposição feminina como objeto de fetiche e sexualidade criou um culto à pornografia. Essa cultura, portanto, sexualizada e violenta, que vende mais à anunciantes de televisão e rende muito lucro aos detentores dos meios de produção, tem por principal caraterística sofisticar o processo pelo qual tudo que nos cerca se torna mercadoria, incluindo aí a capacidade humana de trabalhar e produzir, retirando dos corpos, em especial das mulheres, sua autonomia. Segundos estatísticas veiculadas na imprensa essa semana, ocorre um estupro no Brasil a cada 11 minutos. Outro dado importante é que, de acordo com a última pesquisa feita pelo IPEA, datada de 2014 mas tão atual, mais da metade da população acredita que a culpa do estupro é das próprias vítimas que ao usarem roupas curtas estão chamando a atenção e dando aval aos agressores.
A história de luta das mulheres trabalhadoras é extensa, e sem precisar citar nossas percurssoras sabemos que todos os dias Marias, Anas, Joanas, Brunas, Alexandras constroem com seus corpos a resistência que precisamos para que a luta nos leve ao fim, à emancipação da humanidade, e principalmente, a emancipação sobre nossos corpos. Sabemos que, principalmente nesse momento histórico que atravessamos no Brasil, cada vez mais esses mecanismos de controle buscarão nos colocar em casa, no espaço privado, como belas, recatadas e do lar. É perigoso para o Capital mulheres que se rebelam, e nossa beleza está em dizer que não, não vamos nos calar. Devemos ocupar cada espaço público, cada lugar de luta, devemos nos indignar e levantar. Por todas nós, pela classe trabalhadora e por um mundo enfim, livre. 
Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro

DECLARAÇÃO POLÍTICA - ENCONTRO ESTADUAL - SÃO PAULO


O I Encontro Estadual do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro do Estado de São Paulo aconteceu nos dias 31 de outubro e 1º de novembro de 2015, em São José do Rio Preto, contando com a presença dos Núcleos de Araraquara/São Carlos, Marília, Catanduva, São José do Rio Preto e São Paulo/Santos.
Neste Encontro reafirmou-se o compromisso do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro com a construção de uma sociedade comunista, para isso, teremos que lutar incansavelmente dentro da ordem capitalista, consolidando nossas bandeiras, ideais e palavras de ordem:
a) Pela Emancipação da Classe Trabalhadora a fim de que esta não arque com a crise capitalista; b) Pela Equiparação salarial entre homens e mulheres, salários iguais para trabalhos iguais; c) Pelo Fim da múltipla jornada de trabalho para as mulheres, com a construção de lavanderias e restaurantes públicos; d) Pela Redução da Jornada de trabalho sem redução de salários, Contra o desemprego, Contra qualquer forma de precarização das relações de trabalho; e) Contra o genocídio do povo negro e periférico; f) Pelo Fim do encarceramento em massa, Contra a privatização dos presídio, Pelo Fim da revista vexatória e Pela Melhoria de condições de vida das presas; g) Por creches e escolas integrais, próximas aos locais de trabalho e estudo, em todos os períodos, que sejam públicas, estatais, laicas, gratuitas e de qualidade; h) Pelo fim da violência contra a mulher; i) Pela descriminalização e legalização do aborto garantindo o atendimento na rede pública de saúde; j) Pelo fortalecimento de Centros de Atendimento Psico-Social, Atendimento a Mulher e Contra todo tipo de Privatização da Saúde; k) Contra todo e qualquer tipo de perseguição aos povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e caiçaras; l) Contra a LGBTfobia e todo tipo de discriminação; m) Contra qualquer retirada de direitos e por nenhum Direito a menos.
Somos feministas e trabalhadoras, por isso acreditamos e defendemos que a luta feminista não é uma luta secundária ou apartada da luta de classes. Nesse sentido, o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro ratifica sua linha estratégica com o feminismo classista, ao entender que as relações sociais - de classe, gênero, raça, etnia - estão historicamente interligadas. Estamos lado a lado com todos e todas aqueles que lutam contra o Capital, contra o Estado Burguês e Contra o Machismo e o Racismo.
Continuamos afirmando, com base no que as experiências históricas nos revelam, que sem feminismo não há socialismo. Que a nossa luta continue!



Coordenação Estadual do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro - Estado de São Paulo.