No último dia 04 de dezembro de 2016,
aconteceu na sede do PCB, em São Paulo, uma roda de conversa sobre os 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência
contra a Mulher, como parte integrante das várias atividades desenvolvidas
nesse período.
A
Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da
Violência contra as Mulheres é uma mobilização anual, praticada
simultaneamente por movimentos sociais, agentes públicos e organizações de
esquerda preocupadas com a garantia dos direitos das mulheres. Em todo o mundo,
essa campanha se inicia em 25 de novembro, Dia
Internacional da Não Violência contra a Mulher e vai até 10 de dezembro, o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Desde sua primeira edição, em 1991, já conquistou a adesão de cerca de 160
países e, no Brasil, essa campanha acontece desde 2003.
O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro e a Secretaria Gênero do PCB de São Paulo
organizaram a atividade pensando na formação dos e das militantes do partido e
do coletivo, além de conversar com simpatizantes e outros Coletivos Feministas
sobre o tema. As palestrantes se dispuseram em falar sobre a Divisão
Sexual do Trabalho, o conceito de Feminismo Classista e os
Vários
Tipos de Violência Praticados contra as Mulheres. Maria Fernanda,
Samara e Michelle também debateram a articulação entre a esquerda e a
militância feminista.
“O conceito de classe não se define somente pela posição diante da propriedade ou
não dos meios de produção. Se define também pela posição de cada indivíduo no
interior de certas relações sociais de produção e ainda pela consciência que
associa ou distancia de uma posição de classe e pela ação dessa classe nas
lutas concretas”, foi assim que se iniciou a conversa sobre a compreensão de
Feminismo Classista durante a atividade.
Não
basta pertencermos a uma classe no sentido de origem e mesmo situação, temos
que levar em consideração a ação e a consciência que possibilitam a identidade
com uma determinada classe. E para compreender classe é necessário apreender a
dinâmica da luta de classes e além disso, também temos que nos preocupar com a
dimensão da escolha racional de classe.
Como afirmou Mauro Iasi (2006),
“Marx vê as classes como sujeitos das
alterações históricas, como mediações históricas das contradições
estruturais que amadurecem no interior de cada sociedade”. E entender todo esse
processo exige de nós, militantes comunistas, compreender não apenas a dinâmica
econômica restrita da exploração capitalista, mas compreender as
particularidades e diferenças dos sujeitos que a compõem e como o capital se
apropria delas para gerar mais lucro.
A Classe trabalhadora é heterogênea, isto é, são pessoas reais,
diferentes entre si e que fazem escolhas pessoais. Mirla Cisne (2014) aponta
que não podemos considerar a classe como algo abstrato e sem história, ao
contrário. Considerando que são pessoas reais que corporificam a classe, não
estaremos negando a existência de componentes como sexo e etnia nas relações
internas e externas à classe trabalhadora. Afinal, assim como a classe, as
pessoas não são homogêneas, ainda mais em uma sociedade desigual como a nossa.
Sendo assim, todos nós, militantes
comunistas temos que conhecer essa heterogeneidade, compreender que os
trabalhadores e trabalhadoras tem características diferentes e são considerados
de maneira diferente no mundo competitivo do capitalismo. Tais características
fazem com que, como Alexandra Kollontai disse, as mulheres tenham sobre seus
ombros, o peso de ser trabalhadora, dona de casa, mãe e esposa. Enquanto os
homens também são caracterizados, ainda hoje, como chefes de família que devem
trazer o sustento de seus membros e sofrem quando isso não ocorre.
Os papeis sociais que devem ser
realizados pelos homens e mulheres trabalhadores também impõe postos de
trabalho mais precarizados e mal remunerados, competição entre si para a
ocupação desses postos. Também impõe a persistência da divisão sexual do
trabalho, gerando grandes desigualdades de salário, jornadas extensas e
intensivas e a permanência do não reconhecimento do trabalho doméstico e
reprodutivo que se mantém como responsabilidade da mulher.
Vemos então que o sistema
capitalista não é só uma divisão em classes antagônicas. Também constitui uma
divisão intraclasse e lança mão de tradições (culturalmente
falando) para justificar a marginalização efetiva ou potencial de certos
setores da população. Dito assim, parece algo completamente distante do que os
militantes comunistas estão debatendo, mas não é. O sistema capitalista usa de
preconceitos de sexo, etnia, de orientação sexual, de localidade geográfica
para marginalizar mulheres, negros, LGBTS, nordestinos. E com isso, também
precariza a força de trabalho desses grupos, fazendo com que exista uma
hierarquização a ser seguida pelos trabalhadores e trabalhadoras.
“Há ainda outra dimensão importante a se considerar nessa “ordem”
hierárquica, que é o sistema heterossexual obrigatório de organização social.
Os homens brancos e heterossexuais possuem muito mais privilégio do que o outro
lado extremo da hierarquia social: a mulher negra, lésbica e pobre. Assim a
dimensão da orientação sexual, nessa sociedade patriarcal, engendra opressões
particulares”. (CISNE, 2014, p.26).
Com todo esse aprofundamento, o
Feminismo Classista contribui para a compreensão da desomogeneização da classe
trabalhadora e também se coloca nos desdobramentos políticos que podem surgir
em torno das práticas coletivas reivindicatórias, vindas dessa compreensão. Souza-Lobo
(2011) afirma confirma esse movimento da seguinte forma:
“Essa percepção da heterogeneidade da classe nos possibilita engendrar
táticas que podem se traduzir “em práticas reivindicatórias diferenciadas e
autônomas, desfazendo a centralização e a hierarquização que tornam invisíveis
as formas de resistência de uma parte da classe operária” (Souza-Lobo, 2011,
p.79).
Apesar
de reconhecermos a multiplicidade dos sujeitos inseridos em uma mesma classe,
não queremos isolá-los em suas identidades. É necessário perceber o sujeito
classe trabalhadora, em sua totalidade, o que exige desvelar suas
particularidades e singularidades. A classe como determinação central não deve
secundarizar as demais características estruturais dos sujeitos que ele compõe.
Por outro lado, tais elementos não devem subtrair a classe. Isso significa que
as relações entre classe, etnia e relações sociais de sexo devem ser vistas com
uma unidade determinante de um sujeito universal: a classe trabalhadora.
O Coletivo Feminismo Classista Ana
Montenegro
O Coletivo Feminista Classista Ana
Montenegro existe desde 2005. E atualmente atua em vários estados brasileiros.
No ano de 2015, realizou seu primeiro encontro nacional (https://pcb.org.br/portal2/9953) e apresentou suas resoluções
enquanto um Coletivo partidário que luta pelo direito das mulheres, mas não
deixa de lado toda a classe trabalhadora.
Também é importante salientar que o
Coletivo é misto e nossa luta enquanto militantes feministas classistas e
comunistas nos orienta a debater conjuntamente todos os problemas da classe
trabalhadora. Dessa forma, para nós é muito importante que todos os camaradas
comunistas também se disponham, debatam e lutem pelos direitos das mulheres trabalhadoras,
que estão ombro a ombro construindo o poder popular.
Referências bibliográficas:
IASI, Mauro.
As metamorfoses da Consciência de
Classe: O PT entre a negação e o consentimento. São Paulo: Expressão
Popular, 2006.
CISNE,
Mirla. Feminismo e Consciência de Classe.
São Paulo: Cortez, 2014.
SOUZA-LOBO,
Elisabeth. A classe operária tem dois
sexos: trabalho, dominação e resistência. São Paulo: Fundação Perseu
Abramo/Secretaria Municipal de Cultura/Brasiliense, 2011