quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher



            No último dia 04 de dezembro de 2016, aconteceu na sede do PCB, em São Paulo, uma roda de conversa sobre os 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, como parte integrante das várias atividades desenvolvidas nesse período.
            A Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres é uma mobilização anual, praticada simultaneamente por movimentos sociais, agentes públicos e organizações de esquerda preocupadas com a garantia dos direitos das mulheres. Em todo o mundo, essa campanha se inicia em 25 de novembro, Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher e vai até 10 de dezembro, o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Desde sua primeira edição, em 1991, já conquistou a adesão de cerca de 160 países e, no Brasil, essa campanha acontece desde 2003.
            O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro e a Secretaria Gênero do PCB de São Paulo organizaram a atividade pensando na formação dos e das militantes do partido e do coletivo, além de conversar com simpatizantes e outros Coletivos Feministas sobre o tema. As palestrantes se dispuseram em falar sobre a Divisão Sexual do Trabalho, o conceito de Feminismo Classista e os Vários Tipos de Violência Praticados contra as Mulheres. Maria Fernanda, Samara e Michelle também debateram a articulação entre a esquerda e a militância feminista.

O Feminismo Classista
            “O conceito de classe não se define somente pela posição diante da propriedade ou não dos meios de produção. Se define também pela posição de cada indivíduo no interior de certas relações sociais de produção e ainda pela consciência que associa ou distancia de uma posição de classe e pela ação dessa classe nas lutas concretas”, foi assim que se iniciou a conversa sobre a compreensão de Feminismo Classista durante a atividade.
            Não basta pertencermos a uma classe no sentido de origem e mesmo situação, temos que levar em consideração a ação e a consciência que possibilitam a identidade com uma determinada classe. E para compreender classe é necessário apreender a dinâmica da luta de classes e além disso, também temos que nos preocupar com a dimensão da escolha racional de classe.
            Como afirmou Mauro Iasi (2006), “Marx vê as classes como sujeitos das alterações históricas, como mediações históricas das contradições estruturais que amadurecem no interior de cada sociedade”. E entender todo esse processo exige de nós, militantes comunistas, compreender não apenas a dinâmica econômica restrita da exploração capitalista, mas compreender as particularidades e diferenças dos sujeitos que a compõem e como o capital se apropria delas para gerar mais lucro.
            A Classe trabalhadora é heterogênea, isto é, são pessoas reais, diferentes entre si e que fazem escolhas pessoais. Mirla Cisne (2014) aponta que não podemos considerar a classe como algo abstrato e sem história, ao contrário. Considerando que são pessoas reais que corporificam a classe, não estaremos negando a existência de componentes como sexo e etnia nas relações internas e externas à classe trabalhadora. Afinal, assim como a classe, as pessoas não são homogêneas, ainda mais em uma sociedade desigual como a nossa.
            Sendo assim, todos nós, militantes comunistas temos que conhecer essa heterogeneidade, compreender que os trabalhadores e trabalhadoras tem características diferentes e são considerados de maneira diferente no mundo competitivo do capitalismo. Tais características fazem com que, como Alexandra Kollontai disse, as mulheres tenham sobre seus ombros, o peso de ser trabalhadora, dona de casa, mãe e esposa. Enquanto os homens também são caracterizados, ainda hoje, como chefes de família que devem trazer o sustento de seus membros e sofrem quando isso não ocorre.
            Os papeis sociais que devem ser realizados pelos homens e mulheres trabalhadores também impõe postos de trabalho mais precarizados e mal remunerados, competição entre si para a ocupação desses postos. Também impõe a persistência da divisão sexual do trabalho, gerando grandes desigualdades de salário, jornadas extensas e intensivas e a permanência do não reconhecimento do trabalho doméstico e reprodutivo que se mantém como responsabilidade da mulher.
            Vemos então que o sistema capitalista não é só uma divisão em classes antagônicas. Também constitui uma divisão intraclasse e lança mão de tradições (culturalmente falando) para justificar a marginalização efetiva ou potencial de certos setores da população. Dito assim, parece algo completamente distante do que os militantes comunistas estão debatendo, mas não é. O sistema capitalista usa de preconceitos de sexo, etnia, de orientação sexual, de localidade geográfica para marginalizar mulheres, negros, LGBTS, nordestinos. E com isso, também precariza a força de trabalho desses grupos, fazendo com que exista uma hierarquização a ser seguida pelos trabalhadores e trabalhadoras.
“Há ainda outra dimensão importante a se considerar nessa “ordem” hierárquica, que é o sistema heterossexual obrigatório de organização social. Os homens brancos e heterossexuais possuem muito mais privilégio do que o outro lado extremo da hierarquia social: a mulher negra, lésbica e pobre. Assim a dimensão da orientação sexual, nessa sociedade patriarcal, engendra opressões particulares”. (CISNE, 2014, p.26).
            Com todo esse aprofundamento, o Feminismo Classista contribui para a compreensão da desomogeneização da classe trabalhadora e também se coloca nos desdobramentos políticos que podem surgir em torno das práticas coletivas reivindicatórias, vindas dessa compreensão. Souza-Lobo (2011) afirma confirma esse movimento da seguinte forma:
“Essa percepção da heterogeneidade da classe nos possibilita engendrar táticas que podem se traduzir “em práticas reivindicatórias diferenciadas e autônomas, desfazendo a centralização e a hierarquização que tornam invisíveis as formas de resistência de uma parte da classe operária” (Souza-Lobo, 2011, p.79). 
            Apesar de reconhecermos a multiplicidade dos sujeitos inseridos em uma mesma classe, não queremos isolá-los em suas identidades. É necessário perceber o sujeito classe trabalhadora, em sua totalidade, o que exige desvelar suas particularidades e singularidades. A classe como determinação central não deve secundarizar as demais características estruturais dos sujeitos que ele compõe. Por outro lado, tais elementos não devem subtrair a classe. Isso significa que as relações entre classe, etnia e relações sociais de sexo devem ser vistas com uma unidade determinante de um sujeito universal: a classe trabalhadora.


O Coletivo Feminismo Classista Ana Montenegro


            O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro existe desde 2005. E atualmente atua em vários estados brasileiros. No ano de 2015, realizou seu primeiro encontro nacional (https://pcb.org.br/portal2/9953) e apresentou suas resoluções enquanto um Coletivo partidário que luta pelo direito das mulheres, mas não deixa de lado toda a classe trabalhadora.
            Também é importante salientar que o Coletivo é misto e nossa luta enquanto militantes feministas classistas e comunistas nos orienta a debater conjuntamente todos os problemas da classe trabalhadora. Dessa forma, para nós é muito importante que todos os camaradas comunistas também se disponham, debatam e lutem pelos direitos das mulheres trabalhadoras, que estão ombro a ombro construindo o poder popular.

Referências bibliográficas:
IASI, Mauro. As metamorfoses da Consciência de Classe: O PT entre a negação e o consentimento. São Paulo: Expressão Popular, 2006.
CISNE, Mirla. Feminismo e Consciência de Classe. São Paulo: Cortez, 2014.

SOUZA-LOBO, Elisabeth. A classe operária tem dois sexos: trabalho, dominação e resistência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo/Secretaria Municipal de Cultura/Brasiliense, 2011