quarta-feira, 29 de agosto de 2018



Mulher lésbica tem classse!!!
29 de Agosto - Dia Nacional da Visibilidade Lésbica


Nós, mulheres lésbicas, somos constantemente invisibilizadas na sociedade capitalista que se utiliza dos papéis sociais impostos para nos explorar e oprimir cada vez mais. São muitos os aspectos das nossas vidas que devem ser debatidos, sem ignorar as diferenças e como elas estão expostas dentro desse sistema. 

A necessidade da luta cotidiana contra todas as formas de exploração e dominação nos é clara, entretanto uma forma de intensificar e dar visibilidade não só ao debate, mas, também, às pautas especificas, é a existência de uma data que seja marco da nossa luta e da nossa resistência.

Essa história de luta por existir e ser reconhecida enquanto humano, tem sangue de muitas pessoas que se colocaram na linha de frente através de muita mobilização popular, sendo a revolta de StoneWall, em 28 de junho de 1969 em Nova Iorque, um dos principais marcos da resistência LGBT, mas é o dia 29 de agosto, data criada por ativistas brasileiras em referencia e celebração do primeiro Seminário Nacional de Lésbicas, ocorrido no Rio de Janeiro, em 1996, que marca o dia nacional dessa luta: Dia Nacional da Visibilidade Lésbica.

Nós vivemos um acúmulo de violências e opressões. Somos invisibilizadas, violentadas e negligenciadas em todos os aspectos de nossas vidas. Primeiro por sermos mulheres e lésbicas, sobretudo quando somos mulheres, lésbicas, negras e trabalhadoras, sentindo de forma ainda mais ultrajante a exploração, o preconceito e a discriminação, além de toda a intolerância.

Temos como grande desafio expressar publicamente nossa sexualidade, vez que, ainda hoje, a moral sexual vigente impõe como padrão uma ideia de amor e família burguesa que desconsidera a diversidade e reconhece como família apenas o núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher.

Além disso, o prazer da mulher é entendido como algo desnecessário e muitas vezes condenável, pecaminoso e reforçado em diversas religiões. Isso se torna ainda mais complexo quando falamos da nossa sexualidade, sexualidade das mulheres lésbicas, já que a moral dominante é patriarcal, falocêntrica, machista e extremamente violenta, colocando que o prazer sexual só é possível na relação com parceiros homens e com intuito reprodutivo.

Exemplo da barbárie social que vivemos são os casos de estupro corretivo, prática corriqueira no qual existe uma legitimação do estupro feminino, justificado como forma de “correção” de mulheres lésbicas, que teriam escolhido a relação com outras mulheres por não conhecerem sexualmente um homem. De acordo com a Liga Brasileira de Lésbicas, estima-se que cerca de 6% das vitimas que procuraram o disque 100 do Governo Federal eram mulheres lésbicas, entre estas, ainda, havia um número considerável de denúncias por estupro corretivo.

Denunciamos: não temos direito de amar livremente; nossas relações amorosas estão submetidas à reprodução da ordem capitalista e de classes; as relações afetivas têm um fim específico, que é gerar filhos e continuar perpetuando a família patriarcal e monogâmica, garantindo a manutenção da propriedade privada; e, estamos condenadas à diversas formas de violência e opressão que, além da imposição de um padrão sexual heteronormativo, inclui agressões físicas e psicológicas que geram traumas e mortes.

Como a história nos ensinou, foi nossa organização enquanto movimento social que criou condições para os avanços, ainda que mínimos, que hoje vivemos. Essa luta pelo respeito às diferentes formas de expressão da sexualidade e pela garantia de todas as formas de amor é, também, a luta por uma sociedade sem classes, sem desigualdades sociais e sem exploração.

Enquanto existir qualquer forma de exploração, dominação e opressão as lutas feminista e comunista continuarão!

Estaremos lado a lado!



NETO, Arthur Virmond de Lacerda. História da homossexualidade – Parte 1 e 2. Disponível em: http://www.revistaladoa.com.br/website/artigo.asp. Acesso em 17 ago. 2018

FACCHINI, Regina. Movimento homossexual no Brasil: recompondo um histórico. Disponível em: https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/ael/article/view/2510. Acesso em 17 ago. 2018

segunda-feira, 20 de agosto de 2018




Mulher e saúde mental

A luta pela existência de políticas públicas voltadas para a saúde da mulher, ou seja, desenvolventes de ações a partir de um recorte de gênero,  justifica-se, a princípio, pelas especificidades biológicas do corpo feminino e pelas questões que envolvem a reprodução. Porém, como o gênero se refere a uma construção histórica e social de um conjunto de relações, papeis, atributos, características e crenças que definem o que é ser mulher e homem, a necessidade de tais políticas transcende a biologia e se coloca num contexto de desigualdade, opressão e exploração. Merece destaque, neste contexto, a saúde mental da mulher.
O documento sobre a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher descreve as características gerais das condições sociais, culturais e econômicas às quais as mulheres estão submetidas: renda menor, profissões mais desvalorizadas, menor acesso a espaços de decisões políticas e econômicas, violência (sexual, emocional, física, doméstica), sobrecarga de trabalho por conta do trabalho doméstico. Outros aspectos que agravam esta situação de desigualdade são classe social, etnia, idade, orientação sexual e de gênero. O mesmo documento afirma que em virtude de tais condições o sofrimento das mulheres com as consequências de transtornos mentais é maior quando comparado aos homens.
         É evidente, para a medicina, que determinadas condições mentais possuem fundamento orgânico. No entanto, é preciso reconhecer a origem social e econômica de transtornos mentais atualmente muito frequentes, como depressão, ansiedade, longos períodos de angústia bem como os chamados “transtornos mentais comuns” (sintomas como insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas), que se caracterizam como incapacitantes. Tudo que afirmarmos a partir de agora vem de estudos científicos sobre saúde mental, gênero e trabalho, listados ao fim do texto. 
Do ponto de vista epidemiológico, desordens como depressão, distimia, ataques de pânico, fobias, transtornos de ansiedade generalizada, transtornos alimentares e afetivos têm prevalência maior entre as mulheres enquanto esquizofrenia e distúrbio afetivo bipolar se relacionam mais a outras características (tais como demográfica) do que ao gênero.
Nestes estudos há associação da presença de transtornos mentais com as condições de vida e a estrutura ocupacional, ou seja, com as condições de trabalho cada vez mais desumanizadoras do capitalismo. Dentro deste contexto, a sociedade reserva para a mulher um local especificamente adoecedor.
         A relação mais óbvia a ser feita envolve a sobrecarga de trabalho em virtude de ser a mulher, ainda, o membro da família considerado principal responsável pelas tarefas domésticas. Porém, para além disso, há pesquisas que analisam o potencial adoecedor do trabalho doméstico em si. As razões são monotonia, repetitividade, desvalorização e demandas dos papéis sociais aos quais a mulher deve atender. A realização cotidiana deste trabalho pode levar ao desenvolvimento de vários tipos de sofrimento psíquico.
         Mulheres que apresentam sobrecarga de trabalho (associação entre trabalho doméstico e profissional extra doméstico) tendem a apresentar aumento de sintomas de depressão. Os transtornos mentais comuns tendem a ser maiores entre aquelas mulheres que não recebem nenhum tipo de auxílio na realização de tarefas domésticas no interior da família. Este quadro se complica com a existência e número de filhos: à medida que aumenta o número de filhos, aumenta a prevalência dos transtornos mentais comuns.
         Há ainda um elemento importante que associa a saúde mental e o trabalho doméstico: a distribuição de tempo entre as muitas tarefas a serem, cotidianamente, realizadas, sendo que mulheres trabalhadoras experimentam conflitos sobre gestão de tempo de forma mais dramática. O tempo destinado a atividades prazerosas e ao cuidado consigo próprio é essencial para a manutenção da saúde mental. Em virtude da sobrecarga de trabalho, este tempo é escasso para as mulheres e as atividades prazerosas acabam adquirindo caráter menos relevante e entram no fim de uma lista que dá prioridade às obrigações. Talvez nem seja necessário dizer que o caráter hierárquico de tal lista de prioridades é fortemente dominado pelo contexto de produção do imaginário feminino e do papel destinado à mulher como aquela que “cuida do outro”, geralmente, em caráter de abnegação. 
        A  intensificação da precarização do trabalho que tem levado à informalidade e ao desemprego afetam mais intensamente as mulheres, levando ao desenvolvimento dos transtornos mentais. Em um estudo conduzido em Olinda em 2000, enquanto 54% das trabalhadoras informais apresentavam ansiedade e depressão, apenas 19% dos homens sofriam com a informalidade. Para os homens o trabalho informal significava o engajamento nas atividades de encanador ou pedreiro, o que exigia uma certa qualificação e não se identificava com a situação do trabalho doméstico de invisibilidade, carga adicional, monotonia, oportunidade limitada e não reconhecida do uso das capacidades da mulher.
         A ideia - construída historicamente - da mulher como maternal e cuidadora se expressa na realidade sobre a saúde mental de uma forma peculiar, visto que são elas as responsáveis pelos cuidados informais com pacientes de transtornos mentais. Neste sentido, há situações em que as cuidadoras enxergam quem cuidam como o centro de suas vidas, de quem não conseguem se perceber separadas. Ou então apresentam dificuldades em dividir a realização dessa tarefa com outras pessoas. Soma-se a isto a condição financeira desfavorável de boa parte das famílias estudadas, terreno propício para que a própria cuidadora desenvolva sintomas de transtornos psíquicos. De fato, algumas pesquisas afirmam presença de depressão e uso de ansiolíticos entre cuidadoras, tornando claro que elas próprias necessitam de cuidados.
         Quando a mulher adoece mentalmente a família é muito mais afetada. Por ser ela a organizadora das ações do grupo familiar e, principalmente, da vida dos filhos, estes comumente deixam de ir à escola, ao médico e ficam sem assistência para suas necessidades básicas. Uma pesquisa de 2003 afirma que mesmo portadora de doença mental, a mulher tende a manter a execução de determinadas tarefas familiares, ainda que esteja passando por crises. Além disso, é comum que a mulher com transtornos mentais seja abandonada pelo marido enquanto em casos em que o homem adoece, a esposa permanece ao seu lado.
         Um dado interessante evidencia que mulheres internadas em sofrimento psíquico na atualidade têm em comum com mulheres internadas mais de um século atrás o fato de não seguirem o que se espera socialmente delas, isto é, o que é considerado o “curso natural da vida”: o exercício do papel de esposa e de mãe. Isso pode indicar o quanto as pressões sociais a respeito dos papeis de gênero podem afetar a saúde mental de mulheres.
Um estudo de 1995 lista as seguintes causas para a internação de mulheres em sofrimento mental: depressão pós-parto, agressividade, tentativa de suicídio e homicídio, dores de cabeça fortes desde a primeira menstruação e epilepsia, desmaios e insônia decorrentes do período menstrual. O pano de fundo destas ocorrências envolvia violência sofrida (estupro ou espancamento) e crises de depressão pós-parto. A culpa por não ser capaz de suportar a miséria, a criação dos filhos e a conduta violenta do marido estava presente em muitos dos casos.
 Em conclusão, a análise dos dados expostos acima evidencia a urgência da necessidade de se repensar Políticas Públicas voltadas à saúde das mulheres trabalhadoras. Mas, além disso, evidenciam a urgência de repensarmos também o papel e a condição social da mulher, que no capitalismo sempre foram subalternos. A contradição, criada na Era Moderna, entre os trabalho dentro e fora do lar é, além de um fator de adoecimento físico e mental para as mulheres, limitante para seu crescimento individual e coletivo. Sendo assim, é urgente que o trabalho doméstico seja coletivizado e garantido pelo Estado, com a criação de estabelecimentos que assistam às demandas da classe trabalhadora, como creches, escolas infantis e restaurantes populares. Nesse contexto, também faz-se necessária a defesa de uma Saúde Pública de qualidade para os trabalhadores e trabalhadoras, e aqui falamos da luta contra o sucateamento do SUS, que, como já exposto acima, poderá afetar ainda mais as mulheres de nossa classe em suas necessidades.

PEGORARO, R. F.; CALDANA, R. H. L. Mulheres, loucura e cuidado: a condição da mulher na provisão e demanda por cuidados em saúde mental. Saúde e Sociedade. São Paulo, v.17, n.2, p.82-94, 2008.
ARAÚJO, T. M.; PINHO, P. S.; ALMEIDA, M. G. Prevalência de transtornos mentais comuns em mulheres e sua relação com as características sociodemográficas e o trabalho doméstico. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 5 (3): 337-348, jul. / set., 2005
LUDERMIR, A. B. Inserção produtiva, gênero e saúde mental. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 16(3):647-659, jul-set, 2000


terça-feira, 14 de agosto de 2018


Mulher e trabalho doméstico

Associação mais antiga não há
"mulher, você tem que trabalhar!
Dentro e fora de casa, um jeito faz dar
quero o chão limpo e um bife pra jantar
quem foi que te deixou descansar?"
A conquista veio disfarçada
se o lar não te basta, vai pra fábrica
prova que aguenta, trabalho árduo e braçal
ninguém se importa se você for parar no hospital

"quem fez que balance e sustente"
corre com as crianças, dá comida, escova os dentes
"é feminino, tem o dom de cuidar,
nasceu qualificada para maternar"
O mais novo chora, sabe que logo perde o lugar
e você, menos 40% no salário só pelo risco de gerar
nos dividindo entre domésticas e domésticas sem pagamento mensal

A origem disso tudo não se mostra na TV
propriedades e mulheres privadas
uma vida limitada do que eles escolhem pra você
Mulher, pobre, operária
pré requisito de nenhuma outra profissão
tripla jornada de trabalho, sem tempo pra falar de exaustão

Vítimas de uma realidade mortal
sobreviver é resistência, civil e moral
Inseridas em um sistema moldado por homenzinhos
que cuidamos como filhos, dando o que sustentar.
Essa é a faca do machismo
que apunhala, maltrata, escraviza,
Com a desculpa de patriarcar.



segunda-feira, 6 de agosto de 2018



Pós-modernidade e luta feminista

A partir da década de 1960, formas socioculturais pós-modernas tornaram-se, de modo mais expressivo, hegemônicas na academia, nas artes e, até mesmo, na compreensão tempo-espaço. Essas formas contribuíram para a valorização e reconhecimento das múltiplas diferenças e subjetividades, envolvendo questões identitárias de gênero, de sexualidade e de raça, trazendo avanços para os movimentos sociais. No entanto, as teorias pós-modernas, contraditoriamente, também foram responsáveis por anular as metanarrativas, ou seja, de acabar com uma narrativa capaz de explicar todo o conhecimento da humanidade ou de buscar uma verdade universal. O conceito de trabalho - como tema central na produção da vida social -, por exemplo, passa a ser mais uma faceta da multiplicidade de nossa organização social. Consequentemente, “apagam” o sentido da existência das classes sociais e da luta de classes para os movimentos sociais.

A ideia pós-moderna consiste em multiplicar a aceitação do efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico. Essas ideias também estavam presentes na visão de mundo moderna. Podemos, por exemplo, encontrar referidas ideias nas vanguardas do modernismo brasileiro, expressas na semana da arte moderna de 1922. No entanto, ao contrário do pensamento e das expressões artísticas da modernidade, que diante desse caótico pensava em transcendê-lo, a pós-modernidade o aceita como algo definitivo, como algo que não se pode enfrentar ou derrocar. Neste sentido, a perspectiva pós-moderna, de forma genérica, aceita a realidade assim como ela é, já que a humanidade teria chego ao ponto máximo da democracia e do liberalismo, na qual o capitalismo seria o sistema responsável por esse desenvolvimento. Refutam, ainda, que exista um só caminho, um só projeto para a humanidade, enaltecendo o discurso individual de que cada um deve ser dono de seu próprio caminhar, ou seja, de seu destino.

Mas qual sua relação com os movimentos feministas?

Ao mesmo tempo em que essas ideias trazem interpretações sobre as transformações sociais, culturais e econômicas a partir do período citado, os movimentos feministas, permeados de tal teoria, passam a reivindicar e dar ênfase a conceitos como sororidade e empoderamento. Esses conceitos traduzem as lutas identitárias dentro da perspectiva mencionada.

De forma geral e bem resumida, a sororidade tem relação com a identidade cultural e defende a empatia, bem como as formas não preconceituosas dos indivíduos e/ou grupos identitários se relacionarem. Neste sentido, prega que os diferentes interesses de classe não existem, sendo possível uma negociação entre empregadas domésticas e patroas, por exemplo, de forma amistosa, já que são mulheres e podem evitar ações preconceituosas e misóginas.

O problema é quando chegam as crises econômicas, como a crise econômica mundial de 2008 e a atual crise brasileira, onde é possível notar o fracasso desta perspectiva pós-moderna de sororidade na explicação da realidade social.

Sabemos que a classe trabalhadora é a mais atingida pelas crises econômicas, mas as mulheres trabalhadoras, e em especial, as mulheres negras trabalhadoras, são as que mais sofrem por ocuparem os piores postos de trabalho e as piores remunerações. Os problemas dessas mulheres são quantitativamente e qualitativamente distintos dos enfrentados por mulheres negras como as midiáticas Tais Araújo, Gloria Maria, ou, até mesmo, Michelle Obama, por mais que as questões envoltas do racismo as aproximem.

Válido constar que a ex-presidenta Dilma, como segundo exemplo, apesar de ser mulher, reduziu o financiamento para a Secretaria de Política para as mulheres em 22% entre 2014 e 2015.  

Marcela Temer, primeira dama, também apesar de ser mulher, é símbolo de um padrão normativo de submissão e recato demonstrando um retrocesso conservador que atualmente enfrentam as mulheres da classe trabalhadora.

Sob a ótica pós-moderna, a sororidade contribui para individualizar as lutas feministas e enfraquecer o conceito de luta de classes dentro dos movimentos identitários, já que defende a construção de novas atitudes entre as mulheres que poderiam ser construídas com o despertar da consciência de cada uma e da empatia que poderia nascer umas pelas outras através da reafirmação do empoderamento.

O empoderamento, por sua vez, afasta o conceito de classe social para individualizar e tornar subjetivo os processos de opressão e exploração que permeiam a realidade das mulheres da classe trabalhadora.  Tal conceito enfatiza que a mulher não pode se render diante de uma suposta inferioridade feminina, diante de uma suposta desvalorização, fragilidade e desvantagens sociais. Essa perspectiva defende que esses problemas serão resolvidos no momento em que cada mulher tomar consciência do poder que possui para mudar sua forma de viver e lutar para se reafirmar no mundo, enquanto um indivíduo que sabe abrir caminhos e construir oportunidades. Assim, atitudes individuais ganham mais força, diante desse discurso, do que atitudes coletivas - e sabemos o quão problemático é esse quadro para a luta de classes, conforme vimos no texto passado sobre a importância de se organizar.

Vemos o “MC Donalds” fazendo homenagens no 8 de Março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, reafirmando o seu suposto apoio à valorização das mesmas, enquanto oferece trabalho precarizado a elas, com baixo salário e jornadas intermitentes.

Nessa mesma linha, temos o caso do “Banco Itaú” com propagandas reafirmando o empoderamento das mulheres, ao mesmo tempo em que foi condenado a pagar R$1 milhão de reais por assédio moral contra funcionárias e funcionários. Além de ter recebido R$67,5 mil reais de uma ex-funcionária no ano passado quando a mesma, após ingressar com uma ação contra o banco reclamando o pagamento de suas horas extras, acúmulo de funções, entre outras verbas, foi parte vencida obrigada a arcar com os honorários advocatícios da parte contrária – uma vez que, conforme é válido relembrar, a reforma trabalhista aprovada pelo governo Temer que favorece o empregador, ou melhor, o patrão, permite tal absurdo.

A rede de lojas “Marisa” divulga constantemente o empoderamento feminino, mas foi condenada pelo Tribunal Superior do Trabalho a pagar indenização por danos morais a uma ex-funcionária da cidade de Santo André que era submetida, diariamente, a quatro revistas íntimas, bem como, foi condenada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a pagar indenização por danos morais por constranger os consumidores.

Para além das menções acima expostas, podemos citar vários exemplos da apropriação desses conceitos pelo mercado, bem como, identificar formas de operação dessa lógica para mascarar a exploração das mulheres trabalhadoras e travesti-la de ganhos culturais que reafirmam supostas conquistas femininas.

Cumpre enaltecer que as mulheres da classe trabalhadora são as que mais sofrem com a precarização do trabalho, a falta de creche, a violência doméstica e sexual de toda ordem reforçada pela cultura patriarcal, mas posta em marcha pela exploração do mercado, ou melhor, pelo sistema capitalista.

Vivemos tempos de crise onde toda a lógica ora apresentada fica ainda mais evidente. Nada melhor que a realidade para questionar as inconsistências do mundo das ideias. Nada melhor que a luta de classes para entendermos a condição de ser mulher na sociedade capitalista/patriarcal. Nada melhor que lutarmos sem nunca perdermos de vista a histórica luta feminista levada a cabo pelas mulheres da classe trabalhadora que defendiam a transformação radical da sociedade de classes. Para isso, é necessário organizar-se em espaços verdadeiramente revolucionários!