terça-feira, 27 de março de 2018

Nota de repúdio aos atos que nos impedem de lutar



O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro e o Coletivo Negro Minervino de Oliveira se solidarizam à luta dos estudantes da Universidade Federal de São Paulo – Campus Baixada Santista, que tiveram suas bolsas de auxílio permanência cortadas em mais uma investida do Capital contra a classe trabalhadora e repudia qualquer ato violento praticado contra a nossa classe , que venham a inviabilizar nossa luta.
Infelizmente, vemos que aos poucos vai se materializando o resultado da  Emenda Constitucional “do fim do mundo”, que preconiza, entre outros ataques aos trabalhadores, o congelamento de gastos públicos por 20 anos.
A lógica da política da privatização reverbera no ensino público e seu sucateamento. Dessa forma, aos poucos, a classe trabalhadora vai se distanciando do espaço acadêmico e da possibilidade gerar conhecimento contra hegemônico e atuar na luta estudantil.
No decorrer da semana passada, após a notícia do corte de mais de 500 bolsas de auxílio permanência dos estudantes da Universidade Federal de São Paulo – Campus Baixada Santista, uma ação coletiva entre os estudantes foi deliberada com a necessidade de suspensão imediata das aulas para garantir que todos os alunos e alunas do local pudessem participar ativamente e ter informações sobre os cortes.
Ocorre que no momento dessa ação, o professor Roberto Tykanori Kinoshita, com o discurso de que uma das alunas presentes havia invadido sua sala e que estava errada, agarrou-a pelos braços de modo violento, imobilizando-a e empurrando-a para fora da sala de aula. A estudante ainda o questionou sobre sua conduta, que individualizou uma ação coletiva, para deslegitimar a ação.
Em nota nas redes sociais, o professor não nega a agressão e, apesar de tentar explicá-la, não informa que esta fora direcionada a uma mulher dentre os diversos homens presentes e que sua primeira abordagem fora feita com a estudante ainda de costas, na intenção de surpreendê-la.
Nós, do CFCAM  e do CNMO entendemos que essa agressão, já objeto de Boletim de Ocorrência, foi um ataque direto às estudantes trabalhadoras, que além de precarizadas em seus locais de trabalho, também são vistas como o elo mais fraco em todos os outros âmbitos de sua vida social.
Não podemos esquecer que o modo de produção capitalista, ao longo de seu processo de acirramento das relações sociais de classe, desenvolveu e aperfeiçoou técnicas de controle da classe trabalhadora.  O machismo e o racismo, assim, servem ao Capital não só como manutenção de seu sistema de reprodução, já que é a mulher e nesta hierarquia, mais especificamente a mulher negra pobre que mantém o trabalho ainda necessário para que ambos os trabalhadores (homens e mulheres), se reproduzam, e ainda mantém o controle da classe, operando uma violência sobre seus corpos.
Nas universidades, as estudantes já representam 53,5% das taxas de matrícula e lidam todos os dias com políticas de expulsão de estudantes mães da moradia, falta de segurança nos campi, e não existência, na maioria dos casos dos auxílios creche. Mulheres, especialmente as mães, pessoas negras e LGBTs, nos moldes de hoje, não são bem-vindas em nossa universidade. E  se essa não é a educação que queremos, não podemos aceitar também nenhuma ação que nos impeça de lutar.
No caso em questão, inclusive, a estudante lutava pelos seus direitos como mulher e proletária, ao acesso à educação, que deveria ser um direito de todos nós trabalhadores.
Sabemos que, principalmente nesse momento histórico, mecanismos de controle buscarão nos apassivar cada vez mais. Não podemos nos calar diante de quaisquer obstáculo que impeça a luta de nossa classe, e das estudantes. Sabemos que todos os dias Marias, Anas, Alexandras constroem com seus corpos a resistência que precisamos para que a luta nos leve ao fim, à emancipação da humanidade. Por isso, repudiamos o ato do professor em tela e nos colocamos ao lado dos estudantes da Unifesp – Campus Baixada Santista, que desde ontem deflagraram greve.
Por uma sociedade socialista, antirracista, anticapitalista e antilgbtfóbica!
COLETIVO FEMINISTA CLASSISTA ANA MONTENEGRO
COLETIVO NEGRO MINERVINO DE OLIVEIRA