terça-feira, 7 de março de 2017

Origem do 8 de março



A origem do Dia Internacional da Mulher geralmente é associada a um incêndio em uma fábrica têxtil, quando centenas de mulheres morreram carbonizadas.
Embora seja real, o incidente não corresponde, de fato, à origem da data, que é marcada pelo movimento de mulheres socialistas do século XX: o Dia Internacional da Mulher foi proposto por Clara Zetkin na Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas e aprovado, ainda sem data determinada, com o objetivo de diferenciar a luta das mulheres trabalhadoras do movimento de mulheres burguesas.
Foi somente em 1920 que o dia 8 de março foi escolhido como data; e o foi em alusão a um importante acontecimento histórico: a papel das mulheres na Revolução Russa de 1917, que saíram às ruas no dia 23 de fevereiro (o que corresponde ao dia 8 de março no calendário gregoriano), tendo papel fundamental no processo revolucionário que se encerrou em outubro daquele mesmo ano. A data foi escolhida como uma lembrança de que sem feminismo não há socialismo.
Leia na íntegra pelo link.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017


NOTA POLITICA CFCAM/SP e UNIDADE CLASSISTA/SP
“A mulher é a proletária do proletário e não conseguirá sua emancipação se não for pelas mãos da classe trabalhadora, mas os próprios trabalhadores não poderão aspirar sua liberação do jugo da escravidão assalariada se não for convocando a mulher a lutar junto a eles sob a bandeira de sua própria liberdade e da luta por seus direitos”.
Flora Tristan- União Operária (1843)

           É fato conhecido entre militantes que encampam lutas anticapitalistas que nós mulheres da classe trabalhadora somos diretamente mais atingidas pela precarização nas relações de trabalho, uma vez que também fazemos parte dos dois terços mais explorados. Também é fato conhecido de todas as pessoas comunistas que historicamente, e à revelia de várias de nossas lideranças, a organização das mulheres também se deu no seio do movimento sindical – e para além dele.

             Outro fenômeno que deve ser de conhecimento geral, é o aspecto da centralidade do mundo do trabalho no movimento feminista, não no plano das formulações e intervenções, pelo seu caráter policlassista, mas na direção do movimento como um todo. Qualquer construção de grande porte, como é o caso do ato no dia oito de março, é dirigida pelas centrais sindicais, correntes sindicais e partidos de esquerda. Não entendemos a questão da centralidade do mundo do trabalho como algo reduzido ao movimento sindical, porém estamos nos valendo desta categoria teórica dessa forma, porque é assim que a encontramos no interior dos debates das mais variadas organizações. Ressaltamos, portanto, neste momento, que a centralidade de nossas lutas é a luta de classes. E sabemos das dificuldades de acesso, participação e permanência que, nós mulheres, enfrentamos no espaço da militância, principalmente naqueles que refletem antigas práticas sindicais.

            São inúmeros os estudos que comprovam a efetividade da opressão/exploração de gênero pelo capital. Essa opressão acaba fazendo mulheres praticarem múltiplas jornadas de trabalho fora e dentro de casa, receberem menores salários ocupando os mesmos cargos dos homens, e assim, o capital reforça no seio da classe trabalhadora o machismo ainda tão enraizados nas consciências das pessoas de nosso tempo.

      Enquanto seres sociais, como disse Marx, contraímos “relações que são necessárias e independentes de nossa vontade”, neste sentido somos todos e todas passíveis da reprodução de valores essencialmente patriarcais e capitalistas, mesmo tentando nos vacinar contra elas em nossa militância cotidiana. Pequenas aparições recentes em alguns sindicatos e espaços de militância da esquerda, nos fazem entender que não se trata de ações restritas a uma ou outra parcela da sociedade, mas as frentes, sindicais, coletivos, espaços políticos, partidos e a nossa organização.

         O nosso foco de enfrentamento ao machismo e ao patriarcado tem como principal objetivo a criminalização promovida pelo Estado burguês e o fim das relações sociais capitalistas. Ou seja, não se trata da criminalização, perseguição ou culpabilização de indivíduos. Para nós, é inegociável abrir mão da aliança política com os homens de nossa classe trabalhadora, especialmente com aqueles que atuam nas mesmas organizações que nós. Afinal, é possível nesse momento, inverter os papéis retratados na epígrafe inicial e declarar que as mulheres proletárias, no conjunto das lutas da classe trabalhadora, não poderão aspirar sua libertação do jugo da escravidão assalariada se não for convocando os homens a lutar junto com elas, sem abandonar, esquecer ou invisibilizar as suas demandas de gênero.

            É consenso entre nós, feministas classistas, que as atitudes de silenciamento e subalternização que vivenciamos nesses espaços, embora idênticas no conteúdo, quase sempre se diversificam na forma. Raramente são explícitas e objetivas – muito embora seus resultados sempre o sejam – e se expressam através de ações machistas, as quais seus autores reproduzem acriticamente, sem que haja problematização sobre a representatividade histórica dos seus atos relegando tais atitudes ao lugar comum das banalizações.

           Desse modo, a aceitação da (re)incidência de atitudes machistas em nosso constante processo de superação das opressões é contraproducente e antirrevolucionária. Por isso é inexorável a necessidade de problematização e debate contínuo acerca desses comportamentos, principalmente no que tange aos Coletivos Partidários e Sindicais, devido ao seu caráter pluralista e a nossa militância em comum.

            Urge ainda que criemos mediações táticas coletivas para o enfrentamento dessas questões, mas que, antes de tudo, pratiquemos a revisão constante de privilégios para modificar a consciência sobre os mecanismos que perpetuam a conformação dos papéis de gênero e legitimam a dominação patriarcal nesses espaços. Sendo assim, intencionamos como tática, trazer essas pautas para nossos espaços de militância através de rodas de conversa e debates, tanto nas frentes quanto em cada militância orgânica , fomentando o diálogo e a reflexão. É fundamental que tenhamos nesses debates o objetivo da desnaturalização de atitudes opressoras cotidianas e que eliminemos completamente de nossas práticas o camuflado critério "machistocrático" que invisibiliza a nós mulheres militantes nos espaços públicos.

               Buscamos assim, como tarefa militante, criar precedentes para a desconstrução imediata de todo tipo de comportamento machista quando e nas instâncias em que eles ocorrerem, para que possamos desmistificar a ideia de que as situações de violência de gênero – no sentido mais amplo do termo – dizem respeito somente às mulheres, e de que cabe somente a nós, mulheres, a obrigação de discuti-los e resolvê-los.

               Se o machismo é um problema da construção social em que vivemos, elencado pelo capital como fórmula de compartimentar e dividir a classe trabalhadora para que ela não se organize conjuntamente, a responsabilidade de sua destruição é coletiva e, portanto, cabe a todos e todas a dedicação ativa na luta pela emancipação das mulheres, que se refere em última instância, à luta pela emancipação humana.

           Não podemos deixar de lembrar a toda à militância comunista que, na história da luta de classes, também precisamos aprender com nossos erros do passado. Sabemos que uma nova humanidade está sendo gestada em cada uma de nossas ações diárias na busca pelo comunismo. Sendo assim, Rosa Luxemburgo deve ser lembrada para que possamos transformar nossos pensamentos viciados nas normas, regras e valores capitalistas em motores da contradição construtora de uma sociedade emancipada.

          Diante o exposto, o COLETIVO FEMINISTA CLASSISTA ANA MONTENEGRO – ESTADO DE SÃO PAULO e a UNIDADE CLASSISTA - SÃO PAULO constituem unidade de ação bilateral e conclamam aos e às camaradas a contribuírem coletivamente com a ampliação e participação dos espaços de debate sobre essas questões ensejando assim, a construção de novas relações entre os camaradas e companheiros de partido e coletivos partidários.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017


Misoginia e ódio ao feminismo: sobre o feminicídio de Campinas-SP
Fato já bastante divulgado, na virada do ano, Sidnei R. de Araújo invadiu a festa da família da ex-esposa e a assassinou juntamente com o filho de 8 anos e mais 10 pessoas da família, sendo que dessas, a maioria eram mulheres. O assassino, que também se matou, deixou uma carta cujos trechos foram divulgados e revelaram profunda misoginia (ódio às mulheres e sua liberdade e seus direitos), distorção total do feminismo e das leis que visam proteger mulheres ou dos direitos inquestionáveis de quaisquer pessoas.
Ainda, na carta, Sidnei acusa a ex, Isamara Filier, de impedir que convivesse com o filho. Haviam denúncias por parte de Isamara contra Sidnei, por agressões, ameaça e também por abuso sexual do filho que, mesmo não tendo sido comprovado, serviu para a justiça determinar visitas restritas entre pai e filho. Para além da denúncia, nota-se, com o desfecho final ocasionado por Sidnei, que Isamara tinha motivos suficientes para agir com cautela quando o assunto era a convivência de seu filho com o pai. Muito diferente do discurso de ódio que recai sobre ela atualmente, de “uma mãe que tentava separar o pai do filho”, “uma vadia”, “uma destruidora de lares”, sendo difundido pelas redes sociais.
Toda a história é bastante triste e chocante. No entanto, no conteúdo da carta observamos um discurso de ódio, infelizmente, muito comum na atualidade, disseminado no dia a dia e alimentado por figuras políticas, mídias em geral e ditos líderes religiosos. Expressões como “pessoas de bem”, “cidadãos de boa índole”, “trabalhadores”, “homem honesto”, entre outras que procuram enaltecer características dos agressores e minimizam suas ações. Ao mesmo tempo, referem-se às mulheres de maneira ofensiva – vadias e loucas - afirmando que “defensores dos direitos humanos só defendem bandidos” e “feministas buscam privilégios”. Essas são variantes de falas e textos cada vez mais corriqueiros, que quando fomentados e aplaudidos, culminam em tragédias como esta.
Este infeliz episódio ocorrido em Campinas, assim como outros atos bárbaros que estampam as manchetes e chocam o país, são na verdade a demonstração de que o conservadorismo e a misoginia são sustentados por pequenas atitudes camufladas de “comentários, “cantadas” e “piadas”, por exemplo. Cada mínima atitude machista e fascista, é alicerce para o feminicídio. Cada ódio disseminado contra a luta feminista, é porta de acesso à culpabilização da vítima, até mesmo quando esta foi cruelmente assassinada.
Além desse crime, outros casos também chamaram a atenção por claramente serem motivados por discurso de ódio. Em novembro, o estudante Guilherme Silva Neto foi assassinado pelo próprio pai, por ter posições políticas antagônicas as dele e, em dezembro, o vendedor ambulante Luiz C. Ruas (Índio) foi espancado até a morte por dois “homens de bem” que perseguiam um homem homossexual e uma travesti, somente por tentar ajudá-los (veja nota do Coletivo LGBT Comunista - https://www.facebook.com/LGBTComunistaSP/photos/pb.1093932270622177.-2207520000.1483460748./1600729473275785/?type=3&theater)
Também é comum ver crimes de feminicídio serem desqualificados pela grande mídia. Os agressores e/ou assassinos são chamados de doentes, “portadores de algum distúrbio psicológico” ou, simplesmente, homens apaixonados frustrados com o término de relacionamento, e essa distorção funciona quase como que uma desculpa para o crime. Não raramente, coloca-se a culpa da agressão nas próprias vítimas, com comentários sobre suas atitudes, também um mecanismo de desculpa e desresponsabilização o autor. Sem dizer que, tanto nesse caso quanto em outros parecidos, a grande mídia sensacionalista expõe as mulheres querendo justificar a atitude masculina como se o Código Civil Brasileiro ainda pusesse a salvo a malfadada “legítima defesa da honra” que legitimavam o assassinato das mulheres sob o pretexto de terem sido ofendidos.
O discurso de ódio contra os direitos das mulheres, mas também contra os LGBTs, o povo negro, os imigrantes, além de outras categorias sociais, serve para fragmentar a classe trabalhadora e desmobiliza-la contra o grande Capital. Como se isso não bastasse, essa cultura de ódio vai além, cria seres capazes de destruir vidas em nome dessa ideologia fascista presente no rancor contra a liberdade das mulheres. Nós, feministas, não devemos temer, pelo contrário, por mais tristes que sejam esses atos, eles só devem fomentar nossa luta a mobilizar mais trabalhadoras e trabalhadores contra o discurso de ódio e o fascismo.
A nossa luta continua pelo fim da violência contra a mulher, questionando nossa sociedade patriarcal e a individualização desses atos covardes. O crime ocorrido em Campinas e todos os feminicídios não são atos isolados de homens desesperados ou insanos. São crimes cometidos por homens, há anos, que bebem da masculinidade violenta e do sentimento de posse da vida alheia fomentada pelo sistema patriarcal-capitalista.

O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro se solidariza com a família de Isamara Filier e busca todos os dias a aproximação e a conversa com trabalhadoras e trabalhadores para construção de uma sociedade com igualdade entre nós!