sexta-feira, 27 de setembro de 2019

28 DE SETEMBRO – DIA LATINO AMERICANO E CARIBENHO DE LUTA PELA LEGALIZAÇÃO DO ABORTO

28 DE SETEMBRO – DIA LATINO AMERICANO E CARIBENHO DE LUTA PELA LEGALIZAÇÃO DO ABORTO

Pela não criminalização das mulheres.
Pela legalização do aborto.

O dia 28 de setembro, conhecido como Dia de Luta pela Legalização do Aborto na América Latina e Caribe, foi estabelecido no Congresso de Mulheres de 1990, ocorrido na Argentina e precedido pelos Encontros Feministas da América Latina e Caribe, que começaram a ocorrer em 1981, com a primeira reunião em Bogotá, Colômbia.
            As realizações destes encontros marcam as conquistas das mulheres latino-americanas e caribenhas impulsionando-as às ruas para defenderem o direito de decisão sobre nossos corpos e contra o patriarcado capitalista, integrando-nos numa rede de feministas que constroem um espaço de lutas de compartilhamento de ideias, propostas, experiências, problemas e, claro, sonhos.


Sem prisões nem mortes

Contrariando todas as pesquisas nas quais apontam que a maioria da população brasileira é contrária à prisão da mulher por ter feito aborto, estamos vivendo um momento de regressão e de perda de direitos nesse campo.
Diversos são os projetos no Legislativo, apresentados por parlamentares conservadores, como o do Estatuto do Nascituro, que proíbem o aborto até mesmo em casos de estupro e risco de vida às mulheres, hipóteses atualmente permitidas. Esses projetos passaram a proibir, direta e indiretamente, a discussão e apreciação de ações judiciais protetoras dos direitos das mulheres no STF, proibindo a inclusão da questão de gênero nas escolas com apresentação de outras medidas ultraconservadoras.
Recentemente aventou-se, até mesmo, a hipótese de garantir aos violentadores a formalização da paternidade!
No governo Bolsonaro, aqueles que defendem o processo de criminalização são os mesmos conservadores e fundamentalistas que impedem as iniciativas de educação sexual para adolescentes, que refutam as questões de gênero na educação fundamental e média, que lutam contra a distribuição e venda de contraceptivos de emergência, que impedem as mulheres de terem acesso às informações seguras sobre métodos de aborto e que limitam os recursos na área da saúde.


Nossa Saúde e o Controle sobre nossos corpos

Em 1968, a ONU reconheceu o direito de todas as pessoas escolherem, livre e responsavelmente, o número de filhos que desejam, no entanto, no Brasil não há planejamento familiar, mas, sim, a eterna tentativa de controlar o corpo da mulher.
Os contraceptivos continuam não acessíveis a todas as mulheres, não há conexão entre saúde e educação, são limitados os recursos para o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM).
Na década de 1970, o Movimento Feminista e de Mulheres que atuavam na área da saúde, criticando a atuação das clínicas privadas de planejamento familiar, vão, juntamente com médicas/os e sanitaristas, discutir e propor a criação de um Sistema Único de Saúde (SUS) procurando garantir acesso igualitário e universal aos serviços, como é até hoje, mas com um lento sucateamento para o retorno das clínicas privadas.
Tempos depois advém a Previdência Social com uma inovação, a de ter, além de uma legislação pertinente, também um corpo teórico próprio depois abarcado pelo mundo acadêmico (uma inovação do professor e jurista Aníbal Fernandes). A preocupação com a saúde da mulher não pode ser apenas no momento da gravidez ou do parto, justificando a criação do PAISM[i].
O certo é que o PAISM, revolucionariamente, rompe com a visão restritiva da saúde da mulher atrelada ao ciclo da gravidez, até porque, prevenir gestações não desejadas reduz o recurso ao aborto e este, enquanto não for descriminalizado, gerará as mortes das mulheres as  mais  pobres, jovens e negras, para as quais, de acordo com o Ministério da Saúde, o risco de morte por aborto inseguro é 2,5 do que para mulheres brancas.
É por isso que as mulheres lutam por justiça reprodutiva, ou seja, o direito humano a não ter ou ter filhos, o direito à livre expressão da sexualidade, à autonomia do próprio corpo!
Políticas públicas voltadas para o controle de epidemias, infecções sexualmente transmissíveis, saúde reprodutiva, fim da violência obstétrica, defesa da saúde pública, ruptura de classes, enfim, saúde integral das mulheres é que lhes trazem segurança. Políticas públicas para uma vida digna para as mulheres e focadas na superação da violência, dos preconceitos e, obviamente, na ampliação da rede de serviços para atender as demandas das mulheres: trabalho, creches, atendimento humanizado para além do parto, antes de depois dele.


Não há parto humanizado desvinculado do acompanhamento da saúde integral da mulher
A violência contra as mulheres gestantes, chamada pelos movimentos sociais de “violência obstétrica”, caracteriza-se pelas práticas de recusa de atendimento médica, na não oitiva das mulheres, nas agressões verbais e psicológicas, em procedimentos médicos desnecessários nas fases do pré-natal, no parto e após o parto.
O estímulo ao parto cesariano guarda relação direta com as regras do capitalismo e a prática do parto menos demorado, com menor tempo de atendimento, mais produtivismo, mercantilização e, ainda, propiciando a realização de laqueaduras.
O Governo Bolsonaro, que é, acima de tudo, contra todas as mulheres, exigiu que, oficialmente, o Ministério da Saúde retirasse a expressão nominal “violência obstétrica” dos seus documentos, negando e negligenciando, portanto, o problema que afeta milhões de mulheres.
Os governos estaduais, como o de Dória, em São Paulo, através da Lei nº 435/2019, passaram, então, a incentivar as cesáreas.


O aborto na sociedade de classes

Numa sociedade de classes, criminalizar o aborto é criminalizar pobreza já  que  mulheres ricas são atendidas em clínicas, ainda que ilegais, com bons profissionais, bem aparelhadas, seguras, e, obviamente caras, portanto, não acessíveis às mulheres pobres, às trabalhadoras, para as quais resta a gravidez indesejada com todas as suas consequências e sequelas, com prisões e, muitas vezes, a própria morte.
Por medo de ser denunciada, a mulher acaba por realizar o procedimento no ambiente doméstico, sem proteção e que, muitas vezes, a leva para o SUS para realização de curetagem e onde, com frequência, a mulher acaba por ser atendida com discriminação em função da tentativa frustrada de aborto.
Nessa sociedade de classes, a reprodução assistida é apenas para as mulheres da burguesia, já que o SUS nega, em geral, esse tipo de assistência. Assim, o capital sacraliza a vida, mas não apoia a mulher trabalhadora quando essa quer gerar uma vida!
Nenhuma mulher deseja o aborto, mas, no estado burguês, há quase que uma impossibilidade social de controle da própria sexualidade na medida em que a gravidez indesejada é resultante de situações sociais estruturais do capitalismo: violência sexual, recusa de uso de métodos contraceptivos por parte dos homens, falhas nos métodos, limites aos acessos à informação e aos métodos, desemprego, isolamento, maternidade compulsória, monogamia como regra, etc.
A escolha da mulher no capitalismo, com seu teor limitado e liberal, ocorre no contexto da economia de mercado e de comercialização. A tomada de decisões reprodutivas não está isenta desta influência onde reprodução e economia se imbricam na base material: o aborto, o parto e a criação e educação de crianças têm um custo real e mercantil.
Para tanto, nós, do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, defendemos que é necessário continuar lutando contra a posição política de tratar o aborto como assunto penal ou de polícia, devendo o mesmo, em contrapartida, ser trazido para o campo da política pública de saúde integral à mulher, apontando, portanto, para a legalização do aborto como caso de saúde pública e de responsabilidade estatal, como forma de respeito à decisão soberana das mulheres sobre suas vidas, seus corpos e sexualidade. Sem a exploração no trabalho, a escravização moral e sexual a que estão ideologicamente sujeitas as mulheres no patriarcado, no capitalismo.

A sociedade socialista facilitaria essa perspectiva!


Mercedes Lima

[i] Luta que tem à frente as (os) comunistas do PCB – Partido Comunista Brasileiro – assim como na Previdência, também do PCB, o professor e jurista previdenciário Aníbal Fernandes.




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