quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Repúdio à censura educacional de João Dória

O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro do Estado de São Paulo manifesta seu repúdio a mais um desmando do governador de São Paulo, João Dória. Neste dia 3 de setembro de 2019, Dória mandou recolher os cadernos de ciências para estudantes do oitavo ano do ensino fundamental de todas as escolas da rede estadual. Enviadas após meses sem material didático –  pois a Secretaria da Educação está reformulando o currículo e até então não havia enviado nem o material utilizado até 2018, nem um novo material –, essas apostilas foram formuladas por professores coordenadores de núcleos pedagógicos das diretorias de ensino (PCNPs). 

Enquanto continuavam a exercer suas funções, esses professores tiveram que formular esses materiais sem dispor de tempo hábil para realizar pesquisas ou consultar os docentes da rede, o que resultou em um material extremamente superficial e repleto de erros. Engana-se, no entanto, quem acredita que o recolhimento do material está ligado ao fato de este conter uma série de erros indefensáveis, ou a uma mudança na forma desleixada e sem planejamento com que o governo estadual tem transformado o ensino paulista. 

O argumento do governo estadual pauta-se no fato de que há, nas apostilas de ciências, um texto que explica a diferença entre gênero, sexo e orientação sexual. Segundo Dória, esse material faz apologia à “ideologia de gênero”, não sendo “razoável” distribui-lo para crianças e adolescentes. Ainda de acordo com o governador, esse conteúdo contraria a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento igualmente arbitrário e contraditório. 

De fato, o termo gênero foi suprimido na BNCC por pressão dos setores conservadores da sociedade. No entanto, as competências 7, 8 e 9 deste documento abordam o respeito e reconhecimento da diversidade humana e suas emoções, deixando implícita a questão da sexualidade e gênero. Assim, o material do Estado de São Paulo não foi contra as premissas do principal documento da educação do país.

É preciso ainda ressaltar que o termo “ideologia de gênero” passou a ser usado há pouco mais de uma década por grupos contrários ao discurso da diversidade, com o argumento de que abordar diversidade sexual com os jovens seria um “incentivo” à homossexualidade e à transexualidade. A verdade é que os estudos de gênero apenas analisam a existência da diversidade sexual humana, ajudando a promover o respeito a essa mesma diversidade. Porém, o tema se choca com as barreiras morais, religiosas e hetecisnormativas da sociedade brasileira. 

A atitude do governador demostra, mais uma vez, que o projeto em curso visa desenvolver uma mão de obra oprimida, alienada e explorada, aprofundando a precarização do ensino com escolas que não mais possuem a obrigação de promover o pensamento crítico e o respeito à humanidade e à diversidade

Assim como a educação pública, as questões de gênero carecem de atenção. 
Lutemos, pois só a luta muda a vida!


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