A
AIDS, doença causada pelo vírus HIV, foi reconhecida no ano de 1981. Seu
surgimento está relacionado com um vírus presente em macacos que sofreu mutação
infectando, por consequência, seres humanos. Há teorias de que a primeira
transmissão teria sido década de 1930, porém é na década de 80 que a doença se
torna conhecida mundialmente.
Quando
surgiu, a doença foi associada aos homossexuais, sendo esse o público mais
infectado nos primeiros anos em que se dissipou – porém, atualmente, este cenário não é mais uma realidade. Com o
passar do tempo, o HIV se disseminou em homens e mulheres das mais variadas
idades e hoje consiste em uma realidade complexa e diferente.
Os
primeiros pacientes infectados recebiam o diagnóstico da doença como uma
sentença de morte. Pouco conhecida e sem tratamento eficiente, os que
contraíram HIV nas décadas de 80 e começo de 90 contavam seu tempo restante de
vida. Hoje o tratamento é bastante eficiente, ainda não proporcionando sua cura,
porém garantindo uma sobrevida com mais tempo e qualidade. Ainda que tal
avanço constitua um ganho, ao mesmo tempo ele também é responsável pela atual
volta da onda de contágios.
Os
pacientes em tratamento, hoje, levam uma vida regular, ainda que com os efeitos
colaterais dos remédios, o que faz com que não pareça tão difícil conviver com
a doença e diminui a preocupação entre os jovens. Estudos recentes mostram que
o contágio entre essa população cresceu nos últimos anos e principalmente entre
mulheres jovens. Segundo o Fundo Internacional de Emergência para a Infância
das Nações Unidas, a UNICEF, uma jovem entre 15 e 19 anos é infectada, no
mundo, a cada 3 minutos. Se o vírus é um problema para qualquer um que o porte,
para as mulheres isso se torna ainda mais complexo.
A
contaminação entre meninas está relacionada a uma série de fatores da sociedade patriarcal. O início de uma vida sexual muitas vezes sem
informações sobre sexo seguro e um mínimo de noção de consentimento, somada às
relações com homens mais velhos, ou, ainda, o estupro, faz com que o contágio
seja mais latente nesse grupo. Não é possível deixar de destacar aqui o fato de
que muitas mulheres, no mundo todo, são coagidas, abusadas e estupradas, recaindo-lhes
um fator de contágio que não está relacionado ao sexo – além da questão do estupro como arma de guerra, crime existente há
décadas e também responsável pelos altos índices de contágio.
Ainda
referente ao machismo e à violência, muitas mulheres, quando recebem o
diagnóstico, não têm coragem nem de compartilhá-lo nem de procurar tratamento,
fruto do medo da violência social e institucional que podem sofrer. A ideia do
senso comum que se limita a ligar a doença à sexualidade livre (e aqui refere-se,
obviamente, tão somente ao desejo de praticar sexo, não aos estupros), bem como
o fato de que às mulheres não cabe essa liberdade, faz com que as contaminadas
sejam duplamente taxadas, tanto pela doença quanto pela condição de ser
sexualmente ativa, o que, em outras palavras, é sinônimo de vulgaridade, de
merecimento e de punibilidade.
Há
alguns outros fatores a serem destacados, tal como a transmissão por parceiros
que praticam sexo desprotegido em relações extraconjugais e a violência dos que
se recusam e coagem a mulher a fazer sexo sem proteção (prática esta
criminalizada pela Lei Maria da Penha, tipificada também como violência
sexual).
Seja
qual for a forma de contágio, há um tema central recorrente no assunto: o
machismo e a falta de qualidade na promoção da saúde e direitos sexuais
femininos. Assim como afirma Violeta Ross, boliviana militante pelos direitos
das mulheres soro positivo: “Sabemos que
é possível controlar o HIV/Aids com medicamentos, mas o remédio não controla a
violência e o machismo que vivenciamos todos os dias”. A redução desse
problema perpassa descontruir a ideia de que ao homem cabe o controle do sexo,
de que a sujeição e posse feminina são naturais ou, ainda, a ideia de que com
mulher não se fala sobre sexo.
É
importante ainda ressaltar os termos das teses do Coletivo Feminista Classista
Ana Montenegro.
168. Diante do constante conservadorismo
apresentado pelo poder legislativo, precisamos prezar pela manutenção das
conquistas da Lei nº12.845/2013, que permite a vítima de estupro amparo médico,
psicológico e social pelo SUS (incluindo no atendimento teste de gravidez,
pílula do dia seguinte, teste de Doença
Sexualmente Transmissível e exame de HIV), e combater todas as medidas que
sejam retrocessos para o direito a vida da mulher e a propriedade do seu corpo.
[...]
187. Agravos à
saúde reprodutiva, como infertilidade, gravidez indesejada, HIV/Aids,
associados à violência contra a mulher, têm se mostrado importantes fatores de
risco para transtornos mentais, uso excessivo de serviços de saúde, baixa
qualidade de vida, limitado desenvolvimento pessoal e profissional e
dificuldade de estabelecer relacionamentos interpessoais e afetivos.
Nós,
mulheres, necessitamos do feminismo para a promoção dos mais triviais direitos,
muitos deles já garantidos aos homens, inclusive os da classe trabalhadora. A
luta feminista deve apontar-se aos mais diversos campos do cotidiano. Não nos
esqueçamos de que quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede. Uma
sociedade que garante saúde sexual feminina, garante, por consequência, saúde
masculina.
Referências:
https://extra.globo.com/noticias/mundo/nobel-da-paz-pede-fim-de-impunidade-estupro-como-arma-de-guerra-23168521.html
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