No dia 10 de maio de 2021, outro caso de feminicídio em Campinas veio à
tona. Vera Bonfim foi a primeira vítima de feminicídio registrada neste
ano. Ela foi assassinada e teve o veículo em que se encontrava incendiado pelo
ex-marido (que, por mais que tenha confessado o crime, responde em liberdade).
Mais casos de feminicídio ocorreram na cidade desde maio, mantendo as altas
taxas na média nacional (em 2015, a taxa de feminicídios no Brasil foi de 4,8 a
cada 100 mil mulheres, uma das mais altas do mundo) e gravemente acentuadas
desde o início da pandemia, que intensificou o convívio doméstico devido ao
isolamento social e paralizou parcialmente alguns serviços de apoio às
vítimas, levando a um aumento de 20% de casos ao longo de 2020.
É sabido que a maioria dos casos de violência contra a mulher ocorrem dentro
do próprio lar e/ou perpretados por homens com os quais ela mantinha ou mantém
contato próximo (na maioria dos casos, parceiros ou ex-parceiros). Esse fator
tem influência direta sobre o número de casos denunciados e como a mulher é
acolhida (ou não) nos órgãos competentes, haja vista as inúmeras maneiras pelas
quais a estrutura machista, racista e LGBTfóbica da sociedade brasileira se
expressa e é reforçada nessas situações.
Não são exceções em que o próprio sistema de proteção à mulher se
encontra de mãos atadas até a violência tomar proporções mais graves, chegando
a uma situação muito mais dolorosa e traumática para a mulher e sua
família. Não são exceções também casos em que os atores nos próprios
processos judiciais duvidem e desconfiem das vítimas,
fazendo-as passar por repetidas situações de violência, como foi no
recente caso Mariana Ferrer.
O caso da Vera também nos mostra que os intrumentos de que dispõe a
legislação burguesa são insuficientes para lidar com o crime, pois a lentidão e
despreparo para acolher os familiares da vítima, permitem a convivência entre o
suspeito do crime e a família da mulher vítima de violência. É preciso lembrar
que a maioria das mulheres mortas por seus companheiros deixam filhos e filhas,
que em situação extremamente vulnerável não recebem nenhum acolhimento do setor
público.
Este caso ilustra bem como os feminicídios não são tratados e divulgados
amplamente nas mídias tradicionais burguesas, nas quais eles ou são ignorados,
ou recebem uma abordagem sensacionalista e espetacularizada, mas dificilmente
incitam ao debate sério sobre a violência contra as mulheres e a
construção de um debate crítico sobre seus mecanismos de combate e formas de
proteger as vítimas e suas famílias.
Os mecanismos já existentes não fornecem a rede de proteção, acolhimento e
cuidado necessário nesses casos. Em Campinas, há somente duas delegacias da
mulher, sendo que uma funciona apenas de segunda a sexta, das 8:00 às 17:00
horas. É amplamente conhecido como muitas mulheres não encontram nas delegacias
oficiais que saibam lidar devidamente com a situação e vindo a sofrer novos
constrangimentos e violências.
Além das delegacias, a 1ª Delegacia Seccional de Campinas oferece um
número no Whatsapp para as mulheres entrarem em contato, no entanto a foto que
aparece ao adicionar o contato é do brasão da Polícia Civil, o que, ainda que a
mulher mude para um nome qualquer o contato, permite ao agressor facilmente
identificar do que se trata a conversa no Whatsapp. O Centro de Referência e
Apoio à Mulher (CEAMO) de Campinas também possui a limitação de funcionar
apenas em horário comercial nos dias úteis.
O caso da Vera, em conjunto com os outros casos de feminicídio na cidade,
atestam a necessidade de aprofundarmos o debate sobre o feminicídio e demais
violências contra as mulheres, as formas de atuação para combatê-las e
previní-las. Por meio desta nota o CFCAM Campinas vem demonstrar todo apoio à
família de Vera, à luta organizada de todas às pessoas da classe trabalhadora
contra o feminicídio e o capital.
#JustiçaPorVeraBonfim #ChegaDeFeminicídio